sábado, 6 de novembro de 2010

Já doeu uma vez

Há uma porção de coisas que não são sabidas. Você precisaria conhecer todas elas para entender porque tudo se passa assim, tão depressa. Seria preciso ultrapassar a superfície do visível, seria preciso ultrapassar todos os limites do que para mim é aceitável. Eu desenharia cada gesto, recolocaria cada sentimento no lugar, só para você perceber, mas é dolorido demais. Eu deixei que tudo fosse embora, permiti que tudo fosse indo junto aos emaranhados dos dias, das semanas, dos meses. É difícil assim porque já doeu uma vez.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Segunda-feira

Acho difícil acordar em uma segunda-feira. Nosso ritmo flui sempre mais devagar, parece que não tivemos o tempo necessário para dormir, ver os familiares, amigos, para descansar. Vai entender, não é? Até mesmo eu, que costumo dizer que a vida não é o lugar ideal para descanso, me pego cheia de preguiça durante as segundas-feiras. Se pecado tivesse tamanho, diria que preguiça das segundas é um dos menores deles. Então, hoje, num dos dias mais arrastados da semana, proponho um desafio. Prometo que não é repassar o e-mail para as pessoas mais preguiçosas, nada disso. É mais simples e acredito que mais verdadeiro também. No dia em que a maioria das pessoas detesta levantar cedo e fazer todas aquelas tarefas... No dia em que tudo se torna mais difícil porque o segundo dia da semana tem cara de primeiro, proponho uma ligação, um e-mail, um abraço, um pensamento... Envie da forma mais intensa que puder as suas vibrações de ‘ axé’ para aqueles que fazem você prosseguir, mesmo sendo segunda-feira. Aqueles que tiram um sorriso do seu rosto, mesmo depois de um fim de semana sem descansos. Aquele que, sem você perceber, se tornou essencial nos sete dias da semana, ainda mais se for um dia assim, como hoje.

'E que seja permanente essa vontade de ir além daquilo que me espera. '

domingo, 15 de agosto de 2010

Amigos?

Tenho dias, tais como os últimos, nos quais desconfio do meu papel na vida das pessoas. Desconfio que posso estar servindo apenas para tapar buracos, quebrar um galho enquanto não aparece alguém menos genioso, mais solícito e agradável. As garantias de fato não existem quando se trata de relacionamentos interpessoais, pois não somos como eletrodomésticos comprados nas Casas Bahia. Mas, se for pra ser amigo, que seja por completo.
Somos seres complexos demais, limitados demais também. Não vamos conseguir entrar com processos jurídicos porque a conexão com aqueles que considerávamos amigos falhou. Mas existem sinais e são esses sinais que movem todas as coisas, são eles que não podem falhar, não deve haver ruído nessa comunicação.
Essas coisas de tentar desvendar o que as outras pessoas pensam, tentar achar o que existe de escondido, o que possa ter ficado subentendido... É a forma mais desonesta de tentar levar um relacionamento, seja qual for. Não somos jogos de lógica e raciocínio comprados em sites na internet. Merecemos mais do que um amontoado de suposições e desconfianças. Merecemos mais do que sermos colocados em prateleiras com etiquetas ‘confiáveis, mas infantis’, ‘confiáveis, mas estourados’, ‘confiáveis, mas...’. Ou confia, ou não confia, cacete.
Todos nós somos repletos de coisas que precisamos aperfeiçoar, rever, crescer, mas isso não deveria atrapalhar e decepcionar tanto, já que defeito é ‘pré-requisito’ de todo ser humano. Escolho com calma todos aqueles que quero ter comigo durante muito tempo e, depois de escolhidos, não vejo motivos para tratar todos como ‘ex-drogados’ prestes a ter uma recaída.
As pessoas são passíveis a erros e todas elas, sem exceção, vão errar um dia. Erro maior, ao meu ver, são as pessoas que tentam achar coisa aonde não tem e vêem isso como sinal de vivência e maturidade. Não passa de uma fragilidade sem igual, uma maneira clara de dizer que não está preparado para relacionamentos, para erros seja os meus, ou seus. Pode parecer extremista demais, contudo, se for pra ser rodeado de mistérios e de inseguranças, não chame de amizade. Quando perguntarem fale que é um conhecido que te faz rir às vezes. Parece besteira, mas é isso: um conhecido que te faz rir às vezes.

Por Dara Bandeira

domingo, 13 de junho de 2010

Metáfora dos dias

Depois de muito tempo algo precisava ser dito, precisava sair. Entre as metáforas dos dias, as palavras como linhas tortas, o meu medo, a minha loucura, minha firmeza, talvez frieza, meu não.
Entre as dissoluções do que era antigo, me surge o novo, incrivelmente destorcido, e, como em uma repetição... Atemorizador, impalpável, sofrido, calado.

Metáfora dos dias, Por Dara Bandeira

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A fotografia

E com todo lirismo, com toda poesia, com toda fragmentação do eu, do ego, Teresa olhava aficionada aquela fotografia. Ela viajava por entre os traços e, cada enigmática deflagração da luz, tornara-se o mundo inteiro para ela. Teresa via, revia e remontava aqueles momentos. E aquela infância memorável, aquele sorriso ingênuo, não posado, espontâneo, toma novamente do rosto crescido da menina, da eterna doce menina.

A fotografia, por Dara Bandeira

domingo, 23 de maio de 2010

Não chore, Teresa.


Não chore, Teresa, não chore. Você tem uma vida inteira pela frente, pequena. Você fará novos amigos, você aprenderá a sorrir outra vez, prometo. E olhe pra mim um instante, me ouça com atenção: A vida, Teresa, é feita de escolhas, de renúncias. Não chore tanto, meu amor, vai passar, Teresa. Sente aqui, receba meu abraço e meu amor de sempre. Aquiete seu coraçãozinho, não quero mais te ver assim...


Por Dara Bandeira

domingo, 2 de maio de 2010

Eu pretendo viver

- O que você pretende fazer agora?

- Bom, pretendo viver, querido. Pretendo não deixar que os dias passem sem que eu tenha motivos de sobra para sorrir. Pretendo nunca mais deixar que alguém, assim como você fez, pause momentos, me impeça que eu queira ser mais, que eu seja mais. Agora preciso (re) aprender a me amar, a gostar dos meus traços, a gostar do meu jeito maduro, às vezes formal demais. Preciso retornar, é isso que preciso: RETORNAR. Você me ensinou muita coisa, meu bem, ainda que de um jeito meio torto, chamaria até de psicologia reversa, talvez. E com toda certeza você afirmou o meu pensamento sobre o amor. Se eu pudesse ter te ensinado uma coisa nesse tempo que ficamos juntos, queria que você tivesse aprendido que amor exige, dentre outras coisas, cuidado. Então, daqui pra frente, cuidado... Muito cuidado. Ou vai acabar se perdendo do amor.

- Eu só queria te levar em casa, por isso a pergunta.

- Não se preocupe tanto comigo, eu ainda sei o caminho de casa. Pense um pouco em você a partir de agora. Ache os seus caminhos, ou melhor, refaça-os.

Ela beijou-o docemente na testa, saiu do carro e chorou as últimas lágrimas que choraria por ele.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Dança triste

Fiquei da janela vendo-o ir, ele caminhava como quem dança uma música triste, me pareceu um tanto abatido, mas não mais do que eu. Eu fiquei ali naquela janela e o meu coração foi indo com ele, cada pedacinho que ele trouxe, levou de volta consigo. Chamaria de injustiça em outros tempos, hoje vejo como o fluxo natural da vida, pessoas vêm, mas não se alegre tanto, pois elas logo se vão, sem motivo, sem porquê. E eu ainda que parada, estática, dançava com ele descompassada, a mesma aquela canção triste.

Por Dara Bandeira

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Felicidade

Acho que de fato tenho aprendido a encontrar a felicidade. Não em coisas, muito menos nas pessoas, mas um tanto em mim e em tudo que tenho a me oferecer.
Eu tenho dias coloridos, dias em preto em branco, dias em que o envelhecido toma conta, mas são dias meus, são incríveis os meus dias. Supero com uma firmeza os maus amores, as minhas dores, a cicatriz que o outro deixou.
E quando eu falo em felicidade é nisso que estou falando, em mim, sabe? Não em coisas, lugares e pessoas, tudo isso se vai um dia da minha vida, mas eu não, eu permaneço minha, hoje e sempre.

Felicidade - Dara Bandeira

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Que seja eterno

Tem dias nos quais tenho uma imensa vontade de te dar tudo que eu sinto, para que você possa sentir na intensidade e no ápice dos meus dias. Para que você sofra por não me ver, por não me ter, por não ser recíproco. Para que nas mesas do café com os amigos, você só saiba lembrar de mim e de como seríamos felizes se estivéssemos juntos. Para que durante as suas noites mal dormidas, você escrevesse seu pesar, seu lamento e perguntasse ao seu amigo mais sensível o que deveria fazer. Para que as suas lágrimas fossem direcionadas, quase por completas, a mim seu maior amor. E aquelas fotografias que parecem desenhos de uma realidade, não fizessem sentindo pra você, pelo singelo motivo de eu não estar lá. Eu queria, como eu queria, que tudo que faz sentido para mim, fizesse, na mesma intensidade, pra você, meu amor.
Enquanto isso eu sinto por mim, por você, por nós... para que seja eterno, ao menos pra mim.

Que seja eterno - Dara Bandeira

quinta-feira, 25 de março de 2010

O tudo e a entrega

Toda nossa prece, toda nossa súplica e oração. Todos os nossos temores, todas as nossas dores, todo nosso ateísmo, todo nosso individualismo pagão. Tudo que nos faz sermos quem somos, tudo que diminui um pouco do que éramos antes, tudo que completa, tudo que deixamos, tudo que agregamos valor. Toda nossa fala, todo nosso gemido, todo nosso grito, toda nossa voz sem razão. Todo nosso pensamento, todas as nossas noites mal dormidas, todos nossos dias mal vividos, toda nossa esperança de um dia melhor. Tudo que queremos e sonhamos ser, sempre será nosso, até o dia que reconhecermos que é a hora de entregar, de não nos preocuparmos com que há de vir.Enquanto isso espero, ansiosamente, pelo meu dia.

O tudo e a entrega - Dara Bandeira

domingo, 14 de março de 2010

Aliviar

Hoje tente aliviar, meu caro.E eu não falo de aliviar a dor de dente, ou quem sabe a dor de estomago que te faz até parar de pensar.Falo de aliviar o fardo, de suavizar o peso que temos medo de largar.Temos medo de desamarrar o que nos prende, afinal, nem sabemos qual dos nossos fardos sustenta a nossa personalidade.Como uma terapia, uma forma de alegria, mesmo que de noite quando ninguém te vê, ou quando está de frente para o espelho, maior amigo que você pode ter, sugiro-lhe DANÇAR.
Dançar com todo o corpo, sem excluir nenhuma parte.Dançar com os olhos, dançar não só com os gestos, mas brincar com a ausência do movimento, que é também, forma bonita de expressão.Fazer disso a forma de aliviar a tensão, aliviar as dores, aliviar aquela culpa, aliviar simplesmente, entende?Sem medo de deixar para trás.Imitando o vai e vem da vida, imitando as voltas que ela dá. Imite, sorria bonito, cale aquela vontade, seja mais leve, expresse-se.Acredite que pode ser mais mesmo abrindo mão do que ficou para trás.Religue-se somente ao que foi bom e como um prato de sobremesa, deguste do prazer que é fazer da dança, uma forma de aliviar.

Aliviar - Dara Bandeira

quinta-feira, 11 de março de 2010

Expectativas

Horas de conversas sensatas, horas sorrindo com tanta verdade, largando de lado toda dúvida, todo temor e insegurança. É como se o tempo parasse ali, naquele instante, é como se nada em volta fizesse mais sentido, a sua companhia na verdade era o sentido, a razão e o que eu queria. Eu juro que eu tentei, eu deixei que sentimentos fossem criados, eu deixei meu coração gostar novamente, querer bem novamente, eu deixei. Mas acho que houve ruído na transmissão da mensagem, acho que nada foi compreendido como deveria ter sido, eu tola mais uma vez esperei demais e todos sabem que o segredo é não esperar por nada, só assim as nossas expectativas serão superadas e poderemos sorrir ao final dia. Não quero dizer que hoje, noite de quente de janeiro, eu não esteja sorrindo, mas não é o mesmo sorriso de sempre, é como um sorriso de quem se conforma e diz que foi bom enquanto durou. E aquele mesmo sol que derreteu todo o gelo que existia em mim, foi o que me secou por dentro.

Expectativas - Dara Bandeira

terça-feira, 9 de março de 2010

Cartas que eu não mando

Sei que cartas não estão mais na moda, mas desde quando nos importamos com moda, não é mesmo? Éramos o casal mais ‘démodé’ na nossa juventude, diria até um tanto vanguardista.
Para ser sincera escrevo para contar as novidades, dizer que o Noah cresce assustadoramente e que, por enquanto, não planejo mais filhos. Para dizer que perdi minha mania de cantar músicas indies antes de dormir, mas que ainda durmo de meias no inverno. As suas cartas, seus poemas, nossas músicas... Eu ainda guardo em uma caixa e relembro de vez em quando.
Escrevo para dizer que sinto saudade do seu perfume doce, dos seus livros empilhados na estante, das suas surpresas no fim da tarde. Ainda lembro de você todo dia 22, lembro que todos os meses, nesse dia, eu recebia flores amarelas que desfaziam qualquer mal entendido.
Peço perdão se está dando a entender que estou querendo invadir sua vida outra vez, mas é que tivemos momentos tão bonitos e até hoje sinto muito por ter te perdido. Lembro perfeitamente que foi em você, aquele menino desajeitado, que eu me encontrei. Escrevo só para agradecer, e ao mesmo tempo lamentar.

Cartas que eu não mando - Dara Bandeira

sábado, 6 de março de 2010

Construção

' Depois de analisar cada detalhe, eu pude perceber o quão tola fui por não perceber quantas coisas maravilhosas o amor constrói. É como se cada respirar meu fosse um sinal de que o amor ainda permanece, que ele desfaz sentimentos ruins, ele nos faz recomeçar. E se hoje eu pudesse fazer tudo outra vez, eu optaria por amar e amar, em todas as situações que fui indiferente. '

Construção - Dara Bandeira