quinta-feira, 30 de julho de 2009

.Não vou mais me esconder.

Adeus, querido!Eu disse que um dia as coisas iriam ser assim, mas você quis acreditar que nunca iria ter fim essas terríveis indas e vindas, esses desencontros sem um pingo de amor .Não reclame porque joguei as suas coisas no chão, não reclame por ter batido a porta na sua cara, não reclame por eu te amar demais. Eu sofri calada, quase apodreci por dentro e nem ao menos reclamei. Eu consegui fingir que não doeu a sua indiferença, que não doeu a sua falta de amor, a sua falta de entrega, mas você se cegou, sei lá, parece que não notou o meu esforço , que por muitas vezes, se tornou falta de valor .Vou deixar as luzes do apartamento acessas, a porta entre aberta, o som ligado, não quero e nem vou mais me esconder. Que os vizinhos saibam e comentem, das nossas desventuras. Que sejamos novamente o centro das atenções, que sejamos o motivo da fofoca da senhora do andar de baixo, o que não vou mais, é me esconder. Quero poder chorar enquanto espero o elevador,levar as malas para o carro lá em baixo, dirigir ao celular procurando um hotel pra ficar, pelo menos até eu me estabilizar. Quero poder contar a minha dor a todo àquele que desejar saber. E me lembre, por favor, o que eu quero é não lembrar, por um bom tempo, de você.
Dara Bandeira

quarta-feira, 29 de julho de 2009

. Despida de você .

Nessa noite sonhei ainda acordada em me despedaçar, me despir, estar completamente livre de toda máscara, de toda capa. Estar despida de tudo e todos que me lembrassem você, o seu cheiro, a sua voz, o seu humor contagiante, o seu amor embriagante, a sua falsa lucidez. Mas o estranho foi que antes de dormir, ouvi a nossa música preferida, tirei o seu carro em miniatura da estante para lembrar de você .Angustiada eu andei sem rumo pela casa escura e foi aí que percebi a sua voz ainda ecoando pelas paredes, percebi o seu cheiro ainda em minha pele e as suas idéias contidas em meus pensamentos.

Vejo, que assim como em uma construção civil existe uma grande e forte estrutura que sustenta todo o edifício , me despir de você é desmoronar uma estrutura imensa, é retornar ao pó com a esperança de um engenheiro tão competente quanto você, me refaça, me componha novamente e me faça esquecer da sua obra, da sua incrível mania de me encantar todos os dias ao me dar algo novo com suas diferentes formas de amar.

Despir - Por Dara Bandeira

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Despedida, e agora?

'Despedida, e agora? Eu não sei me expressar bem com as palavras faladas, não sei prever quando a lágrima se desprenderá do olhar. Eu tento ser natural, deixar que o fluxo siga, que as águas corram, mas nada acontece. Cinco e meia, e agora? Tenho vontade de nos últimos trinta minutos, me esconder em algum canto e com um lápis na mão, registrar todos os sentimentos que se passam pela minha mente, registrar cada detalhe para não parecer frieza ou ingratidão.
Eu não sei me despedir, decididamente, não sei. Eu consigo dar um até logo, já que é com isso que me acostumei, mas um adeus tão longo assim é pesado, um fardo engraçado, mas que ao mesmo tempo, não me faz sorrir. Descobri ao não conseguir dar nada além de uma fala: ‘ segunda, dia três, eu volto aqui’, que as companhias não são meros fantoches do cotidiano. Elas são o que valem, são o que importa, o que ficará guardado.
Ainda que os dias não se iniciassem com um abraço caloroso desejando um bom dia de trabalho, era lá que eu escutava a primeira voz do dia, me desejando um bom dia fatigado, cansado, marcado por noites mal dormidas, novidades que deixavam o dia mais triste ou mais feliz. Era lá que ouvia coisas engraçadas, de pessoas engraçadas que Deus por bondade quis me dar e eu aceitei sem ao menos contestar, titubear.
E que fique então no texto marcado a minha gratidão, emoção e prazer de ter pessoas que me suportaram tanto tempo, sem ao menos reclamar.
Obrigada, muito obrigada

Dara Bandeira

sábado, 25 de julho de 2009

Sábado o dia inteiro, tudo pode mudar.

Depois de todos os flashs ele desceu, fez o papelzinho de comportado, letrado, centrado.
Encaminhou-se para a entrada do grande e lotado auditório, as pessoas o observavam, admiravam a inteligência do jovem e cochichavam entre si algo que ele não podia entender. Depois de bater todos os flashs, de fazer o papel de comportada, aplicada e centrada, ela também se dirigiu ao início do auditório. Ela cochichava com seus pensamentos coisas que ele não podia ouvir. Ela admirava a inteligência do jovem, mas nem sabia o porque de ter ficado tão pasma, tão encantada com o jovem moço. Ele não era só sociedade civil,tinha um crachá colorido, dizendo o nome e tudo mais.Mas ainda que fosse por isso, não era explicação. Havia outros tão importantes, se não mais que ele. Mas ele era diferente, sabe? Era ousado, falava com ousadia, até mentir com precisão o conferencista sabia. Conversado, entusiasmado, mas sem muitos rodeios ele falou o que queria,encantou como podia, simplesmente ele marcou.
Ela não apaixonou, não isso não. Ela só fez o papel da encantada por um dia! Queria ter a vida que ele tinha, mas não entenda como inveja, por favor. Ela só queria ter alguém que a admirasse tanto assim. Que fosse profissionalmente, encantadoramente, intelectualmente...
Alguém que a admirasse tanto assim.

Dara Bandeira - O dia de sábado

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uma crônica triste.

' Meses sem ter uma grande alegria, dias tristonhos, noite em má companhia.Vejo que definitivamente as coisas não vão bem, peço com verdade: perdão pela tristeza.'

Hoje pude perceber que de fato sou sozinha! Mas por favor, não quero que soe como melancolia, ou como a agonia de apenas um dia nostálgico que logo vai passar. A primeira pessoa do singular é o que tenho e não tem sido fácil assim se fazer. Parece crescer rápido demais, parece ter algo errado, não ter de fato, com quem contar. Sei que vão vir pessoas dizer ‘ pode contar comigo, querida’, mas não é simplesmente assim, dizer que pode contar. Desse tipo de cena já vivi muitas, ainda que minha pouca temporada como atriz da vida real, possa não aparentar. Destarte sou eu que me agüento todos os dias com minha insônia, meu mau humor, meus sentimentos reclusos, minha falta do que falar. Ninguém mais agüenta isso, nem você, eu sei. E essa nem é a obrigação de ninguém, além é claro, da primeira forma de conjugar qualquer verbo sobre o qual eu decida verbalizar.
E como se pudesse disfarçar em todos os momentos o que sinto, escondo o olhar triste com os óculos de grau, digo que é cansaço.Para tentar provar que é verdade, digo a hora que dormi. Justifico as olheiras, justifico o suspirar, justifico o pensamento perdido, justifico a falta do que falar, a insônia, a falta de apetite e o desânimo para chegar. Digo que sei que as coisas vão melhor, sou falsamente otimista, penso até em me alegrar. Acho que engano a quase todos, o ruim mesmo é me enganar. Enquanto as coisas não melhoram, eu deixo tudo assim, vou disfarçando a dor e no fundo é tudo um tanto faz.Vou sorrindo forçado, fingindo achar engraçado a forma que a vida está. Tocando sem sentir, ouvindo em escutar, não me importando muito com que há de vir, muito pior tenho fé não ter como ficar.A perda do justificar às vezes se faz necessária, nem sempre é possível ganhar, afinal, aqueles que querem sempre vitória, perdem a glória que é chorar. É a justificativa que posso usar, já que há palavras que se tornaram obsoletas em meu vocabulário, perdão por exaltar não mais o sorriso e deixar a lágrima falar.

Dara Bandeira

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Subjetividade não mata, ensina a viver.

Peço perdão pela minha subjetividade, por muitas vezes não saber ser direta, correta, sem rodeios, sem poesia, sem prosa.

'Uma vez me disseram que as nuvens eram transitórias e que tudo um dia passa, ainda que pareça interminável. Não há bem que pra sempre dure, querida. Nem ao menos mal que nunca se acabe, por isso, não se preocupe tanto com o que vai vir depois.
Claro, existe verdade na fala, mas como em um dia de muito movimento em grandes cidades, vejo nuvens que engarrafam o trânsito. Aqueles desenhos animados retratam claramente esta cena. A nuvenzinha só chove em cima de uma personagem, ela fica ali parada e a pobre personagem se vê encharcada, enquanto os outros estão intactos, sem uma gota de chuva sequer.Tem uma nuvem de melancolia, de subjetividade, de falta de razão, que me deixa assim. Cheia de rodeios para falar, cheia de vontade de gritar, cheia de inspiração que nem sei aonde usar. Às vezes acho que ela me faz bem, sabe? Faz-me demonstrar amor, recolher perdão, plantar coisas boas, agradar pessoas boas de alma cheia de solidão. Ajuda-me a mostrar a outra face do mundo hostil, do cotidiano das perdas, me faz fazer poesia com coisas torpes e afins, preenche o vazio, me faz mais feliz.Mas tem gente que não gosta e eu não me queixo disso não, juro que não. Duvido de tudo, menos da dúvida! Duvido que não exista aquele alguém que acha essa mania de subjetividade banal, que gosta das coisas racionais, que curte mesmo a cara lavada, sem essa de mágoa e de enfrentar a dor. Mas não tenho muito que fazer, e, definitivamente, não quero ter que pensar em um jeito de mudar. Afinal, eu me completo assim, libero as emoções, retiro até desilusões, tudo com um conjunto de frases e um pouco de afinidade com o imenso mundo subjetivo, mas incrível, pra quem vive de verdade.

Subjetividade - Dara Bandeira

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Direção, base quando falta o chão.

‘ Pela tarde uma das primeiras vozes que ouvi sendo direcionadas a mim foi uma voz grave, rouca, costumeira, cotidiana. Ouço sempre! Hoje a voz dizia: - Dara, feliz dia do amigo.’

Eu espero que ainda dê tempo de eu dizer algumas coisas. Apesar não ter parado de doer, apesar de não ter se fechado a ferida, eu sei que um dia isso vai acabar. Eu não quero nem preciso de muitos amigos, daqueles incontáveis números na minha agenda telefônica, de uma imensa lista de pessoas que fazem só números , mas não conseguem me atingir, me tocar, não conseguem gostar de mim apesar dos pesares. Hoje posso contar com auxílio de apenas uma mão, quem eu quero comigo para caminhar. Ouvi apenas uma felicitação pelo dia do amigo, recebi apenas uma ligação, que por sinal era engano. Mas agora eu não me engano mais, não prometo o que não vou cumprir, nem me preocupo tanto em agradar. Não vivo tão cercada, nem por isso me sinto menos amada. Vou levando somente procurando acertar. Não conto quase nada a ninguém, mas na hora certa, quem é realmente importante sempre sabe o que há.Obrigada aos poucos e bons, obrigada por darem cor ao enegrecido pelo medo e pela desilusão. Obrigada pelas viagens que não se fizeram frustras pela companhia, do Oiapoc ao Chuí, indas e vindas de Cordeiro a Duas Barras, ainda que distante assim vocês me fazem feliz.Obrigada pela paciência, pelas palavras de conforto, pelo estender de mão, pelo impulso para seguir! Obrigada pelo único, mas sincero ‘feliz dia do amigo’, obrigado por serem um dos motivos que me fazem escrever. Aqueles que não estão tão perto, mas se fazem presente até na ausência, ainda que o tempo e a distância digam não. Obrigada pelas loucuras, pelas noites perdidas,pela gemealidade que não dá para explicar. Obrigada pelas coisas que só nós entendemos, pela troca de olhares, por me fazer gargalhar.Obrigada por não me deixarem passar um dia sequer em casa, obrigada por serem o meu descansar.
Fazem-me crer que há amigos mais chegados que irmãos.Meu sincero e solene muito obrigado, pois amigo é direção, amigo é a base quando falta o chão.

Obrigada – Dara Bandeira

Transbordar

Quando chegamos a música já havia começado, as pessoas já estavam dispostas na grama,separadas da orquestra por um lago imenso. O clima era frio,úmido, mas acolhedor. Resolvi naquele dia transbordar os meus sentimentos, ainda que fossem com ações simples, sorriso complacente,ânimo ainda que sem o ter.Me trouxe a memória esse pensamento de poucos dias atrás. Segue o fluxo . . .

'Quando uma matéria qualquer não cabe em um recipiente, a tendência é que transborde.Exemplo prático é quando esquecemos uma garrafa de água enchendo no filtro, ou quando perdemos a noção que o refrigerante tem espuma e enchemos o copo até em cima.O que nos resta é enxugar a bagunça que fizemos e se ainda sobrar ânimo, tornar a encher o que não deu para salvar.Nas comemorações de fim de ano, estoura-se aquelas garrafas de champangne e é previsível o que acontecerá.O líquido entornará pela garrafa, vai lambuzar a taça por completo, suja até as mãos, mas é previsível, entende? As pessoas esperam por isso, se alegram, comemoram, rememoram momentos, assistem aos fogos e o ano novo chega.Quando esquecemos de viver a vida por completo, quando esquecemos de amar o que temos de melhor, quando esquecemos de admirar as coisas simples e pequenas, quando esquecemos de nos alegrar, a tristeza não cabe no nosso recipiente interno, tendendo então, a transbordar.Como a água esquecida sobre a pia, nossa nostalgia não cabe no peito e o que nos resta é chorar, nós ficamos esperando que alguém apareça para fechar nossa torneirinha interna, esperando alguém para superar nossas expectativas, esperando algo que venha como forma de inovar, algo na medida certa, sem sobrar nem faltar. Agora pense naquela felicidade que não cabe no peito, daquele momento incrível que você mal consegue lembrar sem se entusiasmar, sem se emocionar.Lembrou? Aquela homenagem inesperada, aquele pedido especial, aquela cena revivida, aquele beijo de chegada, aquele olhar encantador, aqueles acordes inesquecíveis, aquele abraço que mata a saudade.Ah, tão previsível quanto a garrafa de champangne, você transborda pela taça a fora, você não se importa em se ver a chorar, você canta, grita com a alegria imemorável que é amar algo, amar um momento, amar na simplicidade que temos no verbo intransitivo,particípio e singular.Diferente semelhança, não é? Ouse simplesmente transbordar, meu caro.Como um recuo providencial, ou como forma de reconhecer que na vida até as coisas boas fazem-nos chorar, transborde.'

Transbordar - Dara Bandeira

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O espetáculo

Acabou-se a euforia.Credenciais colocadas, lugar de imprensa, cadeiras no andar superior e o espetáculo logo começará.
Entram os músicos, seus enormes instrumentos, entram as musicistas e suas respectivas pastas que suponho eu, continha folhas com acordes, notas, músicas.
Quando a música começa outras coisas entram em cena. A minha insônia desaparece, a minha visão ofusca mais do que o normal por estar sem óculos e enfim, percebo a semelhança da vida e daquele espetáculo.

‘ Por vezes prestava muita atenção, vidrada e tentando, sem meus óculos, enxergar cada movimento que se dava no palco posicionado um pouco distante. Percebia pelo som quando a clarinetista se matinha sem movimentos, 'ausente'. Percebia que havia um cara que parecia figurante, sentado perto de tambores que, por incrível que pareça , eram silenciosos. Percebia também que as pessoas podiam ser diferenciadas pela roupa e que o maestro realmente era bom.
Em certas horas me via distraída, perguntando que horas acabaria, perguntando porque meus óculos ficaram em casa, porque o Vitor não apareceu, porque sentia sono nas horas impróprias, porque não conseguia prestar atenção ao que se passava no momento.
Passando pelos corredores sentia uma coisa estranha, era como se pudesse comparar tudo que tinha passado ali à nostalgia do dia a dia.
Tem dias os quais ficamos vidrados na vida, mesmo sem enxergar muitas coisas, usamos os outros sentidos, ouvimos cada instrumentista, sentimos falta do som que ele faz. Percebemos que cada movimento faz toda a diferença, percebemos que tem um alguém por perto dos tambores que não faz muita coisa, mas no fim do espetáculo dá o toque final, dá o diferencial, aparece ousado e abusado. Somos felizes por horas, não queremos que chegue ao fim.
Em outros tempos somos dispersos, perguntamos o tempo todo quando a dor vai acabar, quando aparecerá alguém que prometeu chegar, o porque da bendita audição não ser o suficiente, ter que ter também o visual, o superficial, o natural. Disfarçamos o tédio com o sono e nos damos conta de que não estamos atentos à absolutamente nada.’
E agora, o que fazer?
Se você não tiver em mãos um cronograma de qual será a próxima atração do espetáculo, aguarde acabar, fique na expectativa de o que virá depois, fique atento a quando terá que se levantar para aplaudir e se preocupe menos com o que pode ver. Aguarde apenas o ciclo terminar.

O espetáculo – Dara Bandeira

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Para no próximo,por favor, quero descer.

Ônibus vazio, últimos passageiros da última viajem do dia! Motorista apressado, provavelmente casando, doido pra em casa chegar. Vejo que se aproxima meu ponto. Decido não apertar a sirene, afinal, o ônibus está vazio, o que é que custa verbalizar?

- Querido, para no próximo por favor, é lá que vou ficar.


'Eu sei que a vida continua, mas às vezes bate uma incrível vontade de parar. Como se pede para descer de um ônibus, sabe como? Apertar a sirene e a vida depois de uns segundos com redução de velocidade, parar. Parar para ver a cor do céu, parar para dar atenção à criação, parar simplesmente. E hoje, ao parar num desses poucos momentos em que a correria me permitiu, percebi que existem tipos de pessoas que são imprescindíveis. Aquele que consegue enxergar as verdades eternas, aquele que escuta suas mágoas pequenas, aquele que te abraça e te acalenta ao te ver chorar, aquele que passou com você os dias mais melancólicos, aquele que dá saudade por vezes e faz até num fim de noite você chorar. Por maiores ou menores que sejam nossos problemas, parece que tudo se reduz ao pó quando se tem com quem contar. Quando dei um ‘stop’ em tudo que tanto corre, vi que faz muito sentido dizer que não são importantes as posses que se tem e nem ao menos a falta delas, não é importante a casa que você mora ou o carro que você tem. Ter alguém na vida é o mais importante. Ter alguém que entenda o quanto você pode perder com o fracasso, ter alguém que saiba o quanto você mudou desde que o destino pegou em sua mão, o quanto as suas experiências anteriores te fazem sorrir e até mesmo chorar, diminuir o ritmo, desconfiar. Aquelas que podem ver os lamaçais que você atravessou, enfrentando tudo e todos, com sorriso disfarçando a dor, com oração, fervor, temor.Se não encontras isso em mais ninguém, não será por muito assombro a velhice precoce, nem o semblante abatido de quem já resolveu não pensar mais nisso. Serás consolo para os que julgam estar tristonhos e motivo de receio para aqueles que não são.'

Parar - Dara Bandeira

terça-feira, 14 de julho de 2009

A primeira dose de nostalgia

Depois de algumas semanas ajeitando os detalhes do blog, depois alguns anos tentando ganhar intimidade com as palavras, eis aqui tudo o que não consigo expressar com as palavras verbalizadas . Sentimentos diários vão ser postados por aqui e ainda que não alcance um número grande de leitores, sentir e escrever se fazem mais importantes do que os meros números.
Como primeiro tema, escolhi falar da saudade! Sei que não é um verbo como se é de costume eu escrever, mas ainda sim decidi tentar inovar. Segue o fluxo. . .

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'A saudade é o sentimento mais incrível que pude conhecer. Eu sinto saudade do cheiro, da voz, do som que ouvia, de quase tudo que sentia. Como um buraco que nada preenche a saudade fica lá. Batendo firme, trazendo angustia, trazendo o transbordar de todos os turbulentos momentos os quais vivi, ela chega de mansinho e faz até rir no inicio. Sorrir sozinha, sabe como? Daquele dia em que deu tudo errado e tivemos que voltar pra casa molhados de chuva, da noite em que gargalhamos por horas por alguma coisa idiota, mas era com alguém especial, e por isso, tudo se fez novo, era tudo gracioso. Saudade sem tradução, sem muita explicação, simplesmente a saudade. Depois dos momentos de sorrisos lembro que nada é mais assim. As coisas mudaram, tempos se passaram e hoje são só boas lembranças. Aí eu pergunto: O que faço com os dias que se tornam compridos, com as noites que vejo se tornarem dia, com a eterna falta do que dizer? Por mais longe que se está de alguém, a pior das saudades são aquelas que se sabe previamente, que não vai ter como sanar. Não se acha nas prateleiras dos supermercados os sorrisos, abraços, rimas de amor, a amizade sem tamanho e muito menos aquele amor antigo. Nem a preços altíssimos, que dirá em promoção, meu caro. Melhor do que chocolate, melhor do que um dia na praia, melhor do que o teatro, do que a cor e o som é a presença consentida, é gesto, é a sinestesia, é amor puro, é a fragrância que se sente e se percebe com o olhar. As manias, as coisas bonitas, as noites olhando o luar, o empréstimo não só do livro, mas também de um sorriso que talvez eu não possa esboçar. Ah, a presença é coisa boa de cultivar, não ? Sentimos dores de todas as coisas, mas quando a dor é de saudade, não há verbo que possa traduzir, não há antitérmico que abaixe a temperatura, não há analgésico que cesse a dor.Fui ao médico esses dias, e sabe o que ele falou?

- ‘Aspirina da presença, querida, não há nada melhor pra essa dor.’


Saudade , por Dara Bandeira