quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Sentir.

Sentir...Pensa comigo, queridos.Dentre todos os mais inusitados e procurados verbos, ele, em seu sentido real é o menos clichê.
Sentir é palpitação, é o cheiro, é a cor e quem sabe até, é o toque inicial do amor. Sentir é aquela agonia, aquela vontade inusitada de expressar sem saber como.É a falta de representação do movimento.Quieto, lento e quase sem nada para descrever, o sentir vem como a doce e singela forma de amar, de odiar, de presenciar, de auscultar a mente e o coração.
Seja bom ou ruim o importante mesmo -meu caro- é sentir.Permita-se por alguns minutos aquele pulsar de veias, a desobstrução de artéria, meios, fundos e mundos que nem mesmo com o fazer somos capazes de prever.
Como um recuo providencial, como uma fuga imaginativa, como representação do eu, do ego, como simples e puro verbo no infinitivo.Veja e perceba que ele é o repousar da tarde, o solitário que anda por entre a gente, é o que guia, a manchete do dia, no fim é o nosso maior e mais vital prazer.

Sentir - Dara Bandeira

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Palavras Guardadas.

Guardo as palavras com um cuidado, com um carinho imenso. Por pouco não anoto as frases, os pensamentos e os tópicos que me vêm à mente para que em alguma hora do dia eu possa compartilhar. Milhares de coisas se perdem, e, por vezes, me vejo escrevendo as coisas descartáveis que pensei. Eu escrevo e compartilho sempre com as mesmas pessoas, que quase sempre me respondem com dezenas de pontos de interrogação, mas me sinto ouvida, me faz bem.
Ultrapasso mil fases, repenso coisas, descrevo o ambiente que estou, me coloco no lugar das pessoas, espero o telefone tocar, tento ser gentil, tento não me preocupar. Sabe por quê? Porque com o tempo aprendi que posso ter o mundo e me sentir sozinha, às vezes. Aprendi a aceitar convites recusáveis, vibrar com os irrecusáveis, aprendi a ser uma boa companhia para mim mesmo, porque sempre terei a mim. Posso ouvir a mesma música o dia inteiro, posso até cantar músicas em francês sem saber a letra, posso assistir o que quiser quando chego em casa, posso não chegar em casa se quiser.
Eu posso ser alguém, posso simplesmente não ser ninguém, posso ser uma personagem, posso por horas, quase todas as horas do dia,deixar de atuar, porque não terá ninguém olhando, ninguém além de mim.

Dara Bandeira

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Eu não estava.

Andava pela rua e não escutava nenhum ruído externo, era só o som que vinha da música que escutava. As pessoas passavam como em um filme, elas pareciam personagens. Personagens que atuavam como mendigos, como moças e rapazes bonitos que fazem figuração, como evangélicas, devotas, seja o que for, elas atuavam. Muitos olhares de indiferença perante a paraibana que vende produtos de madeira, muita indiferença, eu via, não podia deixar de ver. Eu vi os carros andando em uma velocidade alta, eu via o semáforo fechado e os carros passando, me soou como indiferença também. Os vendedores das lojas, um tanto afobados com a chegada do natal também estavam lá,. E vi também, os marceneiros construindo a casinha que abrigará o personagem de um homem qualquer, intitulado Papai Noel.
Eu vi tanta coisa, mas como em um sonho qualquer, não pude me ver. Como se não fizesse parte de tudo aquilo, como se nenhum personagem se encaixasse comigo, eu pude apenas olhar e fingir sorrir.

Dara Bandeira

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Estações.


Porque dessa vez vai ser diferente, eu já decidi. Eu aceitei os meus erros, meus desamores, minha angústia e minha solidão. Eu aceitei as minhas perdas e os meus sofrimentos. Deixo-me sofrer ou sorrir, contanto que seja com intensidade, com uma chuva de verdade, o importante mesmo é sentir. Eu não escondo mais meus ciúmes, minha inquietação, minha irritação. Não escondo a minha ansiedade por dias mais claros, por noites mais animadas, para crescer e ter o que contar. Eu não escondo mais o meu rosto, não minto para não causar desgosto, não desminto ninguém para não envergonhar. Prometi dançar, ainda que sem ritmo, cantar ainda que sem saber a letra, dizer que amo ainda que não seja aniversário, doença ou morte, sabe? Decidi simplesmente dizer, quando sentir vontade, quando percebo que alguém irá se alegrar. Rejeitei as idéias dos chatos e sábios. Decidi que ainda sem tempo para jogar conversa fora, não vou ligar para o tempo, ele que trate de esperar. A estação mudou, os dias estão mais quentes e de noite a chuva chega de mansinho, com o intuito puro e simples de refrescar. A minha estação mudou, os dias são mais quentes e a noite a vida muda, com o intuito puro e simples de me fazer sorrir, ou até mesmo chorar. Nessas e noutras horas percebo o quanto Mário esteve certo quando disse dentre outras coisas que ‘só o sofrimento humaniza as pessoas’. Meus caros e raros, só quem sabe da dor é capaz de amar, portanto, choro, sofro, mas não se esqueço nunca que a outra estação logo virá.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Mais amor pra nós dois.

E essa qualidade inferior que você tem me oferecido todos os dias em que nos vemos? E a sua indiferença? Perdoe-me se for só um equívoco, mas me soa como falta de amor. Mas, preste bastante atenção, por favor. Quando digo que existe uma falta de amor, não é só em relação a mim, ok? Falta o amor próprio, falta você aprender a querer-se bem, a ter-se como alguém importante, tal como é.
Se não supro mais as suas expectativas, se não consegue mais me entregar todo seu amor, toda sua dor, tudo que de melhor, e, até mesmo de pior que há em você, adeus, meu bem. Meu desejo não é fazê-lo sofrer, nem acorrentá-lo a uma relação de ódio, só para escrever nas redes de relacionamento que o que sentimos é amor. Nada de agir com imaturidade chorar litros de lágrimas, existir por anos, sem se permitir viver. O tempo em que fomos cúmplices foi delicioso, e, se ainda assim tiver que acabar, vou sentir a sua ausência, não tenho medo e nem vergonha de te contar. Contudo, acredito ser por vezes pior, fingir que as coisas estão bem, enganar a nós mesmo, abrir feridas que demoram tempos para cicatrizar.Você decide me querer também? Se você disser que seus dias são menos coloridos quando não estou e que você antes de dormir ainda se lembra de mim, eu recomeço, sem medo de errar o caminho e ter que retornar. Comigo não existe terror por ser deixada, só existe o medo de não ser por completa, de não ter alguém por completo. São laços profundos que não cabem em linhas de poemas, que não vale a pena tentar explicar, mas eu quero que a escolha seja sua, será que você ainda consegue nos amar ? Amar-se acima de tudo, para então me amar? Desejo mais do que sorte, desejo amor, para nós dois.

Mais amor - Dara Bandeira

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O vento que aquece.

O vento bate tão forte, os vidros não exitam em tremer, em demonstrar o fenômeno da natureza que ocorre logo ali, atrás da minha janela. Já é noite e sei que já deveria estar dormindo, mas decido chegar mais perto, decido respirar fundo a brisa lá fora. Deixo as cobertas de lado e permito o esfriar do meu corpo, contudo, espero que o vento esquente a minha alma e acalme o meu coração. Espero que ainda longe do sol, me sinta aquecida, abraçada pelo inverno passageiro, que com a luz do dia logo se dissipará. A noite passa que nem percebo, escuto o barulho das árvores próximas balançando, vejo a folhagem verdinha cair no chão, ouço o tique-taque do relógio de pulso, que se torna alto a essa hora da madrugada. Percebo que meu coração bate tão forte, sinto o pulsar das minhas veias, posso contar, sem tocar meus pulsos, todos os meus batimentos.
E é como se eu dançasse a música que o vento, é como se a melodia me embriagasse, é como se ele fosse a melhor companhia daquela noite. Noite na qual a lua fazia o papel das velas e o vento fazia o papel mais importante, o papel que sobrou nessa história. O vento fazia o seu papel de companhia que aquece, que me desperta a noite, me surpreende, me faz olhar tudo de forma inovadora, que me faz sonhar.

O vento - Dara Bandeira

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aplausos para o artista.

Aplausos, aplausos, para o grande artista que acaba de chegar. Ele veio de tão longe, ele veio me ver. E olha quem eu sou... Eu sou menino novo, não sou ninguém importante. Ah, ele veio me ver e eu sou uma criança, ainda tenho medo do escuro, ainda não aprendi a sorrir quando tenho vontade de chorar. Eu ainda não aprendi a ser maduro como o pai e a mãe são. Ainda não sei franzir o cenho e dizer que minha cabeça dói. Ainda não tenho problemas de emprego, porque ainda estudo, não tenho idade para trabalhar em um escritório lotado de papéis como do papai. Eu sou menino ainda, mas ele se importou comigo, ele veio, entrou na minha vida, só para me mostrar os motivos que tenho para sorrir. Ele é como o vendedor de bala que fica lá na porta do meu colégio, só que não era bala o que ele tinha para me ofertar. Ele me oferecia uma coisa nova, foi ele quem me ensinou a ver como é bom sonhar.
Desde que esse artista entrou na minha vida, eu sonho todos os dias, eu sonho em crescer, me tornar um homem daqueles grandes que eu vejo na televisão. Eu sonho em ajudar as outras pessoas a sonharem, eu sonho em poder dar a oportunidade que ele me deu. Quero plantar sonhos na mente das pessoas, quero que as pessoas abram sorrisos inesperados, quero que elas se apaixonem pela vida e saibam viver.
Ele disse que sou um garoto especial, ele disse que vou me tornar um grande homem, me motivou tanto, agora eu tenho vontade de ser tudo que ele falou, agora eu quero muito poder agradá-lo, sabe? Mal sabe o artista que ele é o especial, ele me deu tudo que eu precisava, ele me deixa sorrir quando tenho vontade de chorar. Ele fez tanto por mim. O sorriso dele mais parece um abraço, um abraço de um homem forte, com braços fortes, um abraço de um homem especial. Que me abraçou não só com os braços, mas também com a mente e com o coração. É para ele os meus aplausos, meu sorriso , quase tudo que me sobrou.

Dara Bandeira

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Tempo adverso

Hoje tenho a meia luz, uma garrafa de água gelada, uma boa companhia no messenger e algumas regras para seguir. Agora já é noite e alguns pensamentos não querem sair da minha cabeça, algumas frases ditas no escuro ficam rondeando, criando zonas de conflito, silêncios que não cessam e me deixam uma única conclusão: é, acho que aconteceu. Estou longe de casa, longe dos meus sentimentos frios, longe da minha economia ao falar do amor e da dor. Me aproximo de tudo que se opõe ao que sou, me afasto de tudo que já fui um dia. Insight e nostalgia a todo tempo, mas não me recordo de tudo. Nessa noite eu paro só naquele momento.
Tempo adverso - Por Dara Bandeira

domingo, 4 de outubro de 2009

Corpinho bonito .


Pra eu amar tem que ser alguém com pulso firme, integro e que saiba do sarcasmo usar. Pessoas inteligentes, pessoas que achem graça daquilo que ninguém consegue achar.Pessoas que usem as características dos humanos, quando se trata de pensar. Não acredite que corpinho bonito abala meu coração, isto me faz pensar mais no que a pessoa tem na cabeça, para o resto ter que compensar.


Por Dara Bandeira

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Estória pra contar.


Ele olha de longe, ela finge nem notar. Ele passa e repassa sempre pelo mesmo lugar.Ela faz uma pesquisa intensa pelo mundo midiático tentando o encontrar, mas as coisas são mais fáceis do que qualquer um dos dois poderia imaginar.O trabalho aproxima as pessoas,não quero entender, prefiro só vivenciar. Salve, salve os telefones trocados! Salve, salve o jeito ousado e a mensagem que o músico resolveu mandar. Graças a ele, ela tem algo verídico para postar.Graças a ele, ela se sente importante, mesmo por motivos bobos, pelo simples motivo de ele a admirar.

Por Dara Bandeira

domingo, 20 de setembro de 2009

Bem além das palavras.


Aturdida, sem sentido ainda não sei para onde vou. Sei que vou me situando, eu vou me encontrando, sem precisar me desesperar. Não vivo a espera de um amor, vivo para que ele seja manifesto a cada vez que eu falar, vivo sem espera, eu mesmo faço a minha esfera, não quero ninguém para atrapalhar. Que venham os próximos dias e as próximas horas, que eu possa brindar os novos amores, até as minhas antigas dores, que logo serão só lembranças e mais um motivo para sonhar. Que venham os novos amigos e que aos antigos eles possam se juntar. Que venham as novas expectativas e que eu viva o presente sem medo de quando o amanhã chegará.
Brindando cada manhã, vivendo sempre pronta para o despertar, que caiam todas as escamas as quais outrora chegaram a cegar. Que eu enxergue a verdade nua e crua, e ainda sim, tenha forças para continuar. Esses são os dias em que me amo mais, em que uso mais de tudo que eu tenho, que eu vivo um tempo novo, com novos rumos, sem medo de errar.
Ainda que eu ande devagar, tenho aprendido que o importante não é a velocidade, e sim, a direção para qual você decide caminhar. Por isso, digo e insisto, esqueça tudo o que você já viu em mim, este é o tempo e a hora. Dias novos para uma pessoa nova, muita gente vai ficar pra trás, para que os novos possam se achegar.

Novo tempo - Dara Bandeira

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Evocê, o que quer?


Hoje eu quero mais verão, quero mais calor, quero mais beleza, mais vida, mais verde, mais sorrisos largos, gargalhadas intermináveis.Hoje eu quero a Lapa, a Lagoa, quero o centro lotado do Rio, quero Pernambuco, quero visitar amigos da internet, quero conhecer o sul do país, quero ir à Argentina, passear por Cuba, quero visitar toda a América do Sul. Hoje eu quero mais verdade, mais poesia, mais Clarice Lispector. Quero a verdade poetizada de Marcelo Camelo, quero a verdade nua e crua do Cazuza, quero as criticas incutidas na MPB. Quero a alegria de um palhaço, quero o pop, o reggae e o rock. Quero notícia imediata, quero a pureza da mais bela flor. Quero mais professores engraçados, mais trabalhos enrolados, mais estudo, mais de mim, mais do que eu mesma posso oferecer. Ah, eu quero mais encontros casuais, mais amores, menos paixões, mais do amor, menos de dor. Quero mais café, mais energia, mais vida no próprio ato que é o viver. Quero tudo, me quero por inteiro, só quero ser metade, se a outra parte do inteiro for você.

O que eu quero - Dara Bandeira

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Desde sempre, até o sempre.


Nada, querido, eu fiquei sabendo que ela não é da cidade, veio morar aqui tem pouco tempo. Até que ela aparenta ser simpática, né? Fala com todo mundo, ri alto e tem um casaco igual ao da amiga, sorte que elas já apareceram com ele no mesmo dia, caso contrário, iria achar que era um só. Ela tem dois tênis iguais ao meus, vê se pode? Ela tem um humor igual ao meu também e é realmente uma pena não sermos da mesma turma.Vai, não é tão ruim sermos de turmas diferentes, já que eu mato muita aula na turma dela e a encontro em todo intervalo de aula. Eu ganho um abraço apertado, um beijo, ela sobe nas minhas costas e pede para que eu a carregue. Mal sabe ela que a carregada sou eu, eu que me sinto levada, eu que sinto o fardo mais leve, o prazer é quase todo meu. Não sei ao certo quando começou isso tudo, quando vi, ela já fazia parte, já freqüentava a minha casa, eu já a acompanhava nas loucuras de uma cidade perto da minha, eu já dormia abraçada, já tinha visto até a menina bonita chorar. Quando vi eu já era dela, ela já era minha, agora não tinha mais como separar.Passei anos fora da cidade e era doído ter só a lembrança da morena que me ensinou muita coisa, da menina que em um dia era a novata, no outro a indispensável a qual eu fazia questão de agradar. Eu conversava na internet, por vezes ao telefone, eu via meu coração apertar.Mas eu guardei a esperança de que um dia ia ser tudo como no começo, ou quem sabe até melhor, com ela a tendência é sempre melhorar.E hoje, eu vivo tudo isso, hoje eu sou tão feliz, apesar de hoje me faltar a poesia, de hoje eu me perder nas palavras, não saber descrever essas cosias boas que sinto. Mas sei dizer que a amo o suficiente para refazer muitas loucuras, para me entregar a essa amizade sem medo, sem reservas. Sou capaz de viver tudo de novo, se ela estiver comigo.
E aí, será que ela vem? Será que ela topa tornar os meus dias mais coloridos? Será que ela topa me fazer mais feliz do que já sou? Será que ela topa me deixar fazer parte desses dezenove anos que completa hoje? Será que ela espera por mim ?

- Além do parabéns clichê, agradeço por ela me fazer sorrir, às vezes só de recordar.
'Pois amigo é direção, amigo é a base quando falta o chão . '

Thamirys Raposa.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Apreendidas com sucesso.

Passei dias longe das palavras, elas iam até um certo estágio, mas depois voltavam sem ao menos me deixar poetizar. Justificativa?Elas não acharam certo deixar-me usá-las para tão pouco. Disseram que existem sentimentos que ficam externos, mas sem as palavras. Eles se externam por olhares tristes, pelo emudecer da voz, pelo sorriso cansado, pelo corpo carregado , já que a cabeça mesmo, ela, não pode parar. Foi justa essa greve delas para comigo,pois eu estava com sentimentos estranhos, sabe-se lá o que poderia ser delas, se resolvessem me deixar falar . Elas são tão preciosas, tenho medo de perdê-las para sempre, de uma revolta pouco eloqüente, de desaparecerem e me deixarem solitária como um dia eu fui. Elas Voltaram aos poucos, ontem foi apenas uma linha, em dias anteriores nem verbos conseguia encontrar, hoje já tenho um pouco mais, mas me deu uma alegria saber que elas estão de volta, prometi tentar voltar a sorrir, se elas prometerem que não vão mais me deixar.


Palavras fugidas - Dara Bandeira

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Noite dançante.


A noite é fria e convidativa, o clima parece hostil gélido, mas ele resolve tentar.
A mente dela vagueia, mas ele e a música a enlaçam de uma forma surpreendente. Ele a segura pela mão, com o olhar a convida para dançar. A música é a favorita, ele é o favorito, ela, não preciso nem poetizar. Ela já é poesia por si só, ela foi a menina que ensinou o rapaz, sério e contido, a amar. A troca de olhares, a sinestesia, a taquicardia, a respiração ofegante, quente. Os passos se encaixam perfeitamente, aqueles cinco minutos eles parecem não ver passar. E no fim da melodia eles continuam dançando, os corpos permanecem em movimento, a sensação é a mesma desde o convite do rapaz. E a cada passo é como se entregassem seus segredos um ao outro, a cada passo eles percebem que são dois inteiros, mas ainda assim, conseguem se completar. No compasso da dança eles se amam, o corpo para o movimento, mas a mente não.


Dança dos corpos - Dara Bandeira

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Não vou pisar em você.



Degraus de escadas íngremes, de ter que ter força para subir. Degraus bem construídos, medidas corretas, sem nem um milímetro de diferença. Degraus feitos com experiências, degraus que viraram conhecimentos tácitos, degraus feitos aos poucos, como quem não tem pressa de terminar. A escada não está nem no começo, mas já é enorme, cheia de peculiaridades, cheia de esforço, profundidade para desenhar.Foi assim que decidi construir, fiz questão de agir diferente de muitos profissionais que conheci. Engenheiros da vida, que usam as pessoas como degraus. Era doloroso de ver, era doloroso também, por vezes, ser esse degrau. Eu via degraus feitos com homens curvados, pessoas sendo enganadas, degraus feitos com muito cimento de maldade, de corrupção. Eu tinha medo dos engenheiros da vida, eu tinha medo do peso que é ter alguém que quer subir na vida pisando nos outros, sem ao menos se importar. Contudo, agora não mais, eu não tenho mais medo, já que pessoas assim não sabem construir por si só. Logo após de ultrapassar os homens curvados, elas estagnam, não sabem como prosseguir. E enquanto isso eu acabo de construir mais um degrau, acabo de virar a página do meu livro pessoal, acabo de adquirir material para a próxima etapa. Vejo-o parado, como um rosto assustado de me ver crescer, passar na frente, desviando o caminho para nele não pisar.
Engenharia da vida- Por Dara Bandeira

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eram Perus .

Eu fui adestrada a ver o policial bonzinho matando o bandido covarde. Eu via os jornais e os noticiários exaltando a exímia atuação das forças armadas em todo país. Eu acreditava que ela me protegia, detendo o poder, podendo usar da força de maneira legítima, ela era além do que os meus olhos escamados podiam ver. Magnífica quando o bandido se rendia, amigável quando se tratava de um boletim de ocorrência, nunca meus olhos infantis veriam nada parecido, sabia?Aplaudia de pé, respeitava, calava ao ver um policial passar. ‘Eles grasnam como patos, voam como patos, mas quando chega de perto, são perus’, essa foi a mais perfeita descrição que pude encontrar. As notícias populares que voam por aí me deixam indignada, nunca vi tanta farsa, tanta mentira vomitada pelos meios de comunicação, pela polícia, a maldita polícia que mata. Ela não mata só bandido, todo aquele que é pobre e favelado, corre o risco de ser perseguido, de ser acusado sem ter ao menos como se defender. Malditos vermes que distorcem a verdade, malditos é isso que são. Flagrante aonde não tem, arma na mão de cadáver inocente, estraçalham não só a vida, mas a reputação de uma gente, que apesar da pobreza, era digna, honesta, elas sim são de se aplaudir. Quer me fazer engolir à palo seco essa história de serviço social ? Por favor, não me faça acreditar que a polícia que mata qualquer suspeito, tem respeito ao tratar o povo da favela, o pobre, negro, discriminado, mas nem sempre marginalizado, que a grande força armada, faz questão de assim dizer.

Eram Perus - Por Dara Bandeira

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O cortejo que é vital .

'Ela diz não saber escolher um verbo que lhe faz regozijar. Juro que tentei usar o cortejar, mas o cortejo na essência já é a crônica, a poesia, não há muito mais o que falar. Mas decidi tentar ainda assim. Que tal a vida? Permita-me afirmar que, cortejar a vida é o melhor de todos os galanteios.Quer coisa melhor para admirar? Ela retribuirá os seus abraços e assim que você sorrir, ela sorrirá para você!Quando você menos espera, ela te surpreende, abre os novos rumos, faz as novas trilhas por onde você vai andar. Galanteie, não tenha medo de se aproximar aos poucos, não tenha medo de não conseguir esconder a sua sensibilidade sem tamanho diante das coisas que ela, a vida, lhe apresentará. Chore, cante, encante, enamore com ela. Aproveite cada segundo de um dos mais belos romances que você poderá encontrar.Use e abuse do seu antigo amor, não deixe nem um dia sequer de cortejar.'

Cortejar - Dara Bandeira

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Eu sei o que você sente

'Eu sei que quando a noite chega, quando o frio começa a se fazer presente, quando a lua resolve aparecer por cima da gente, você tem saudades de me ver.Você tem saudades do meu cheiro, da minha voz estranha, da minha forma engraçada de falar compulsivamente , sem pausa para respirar. Eu sei que quando você já se despediu de todos e foi deitar, antes de o sono chegar, você recorda as nossas aventuras, desventuras de amor. Você se lembra o quão bom era os nossos dias e se pergunta o porquê de ter acabado, mas não ter tido fim, aquilo que nem lembramos quando se iniciou. Quando nos esbarramos pelos corredores da Universidade, você sorri da mesma forma, você me olha nos olhos, mas tem medo de não ser notado, de não ser visto, de eu ignorar o seu lado simpático que eu mesma criei em você. Ninguém sabe da gente, as pessoas só te conhecem de ouvir falar, mas se fascinam e querem saber da história do rapaz que me fez amar, que me vez conhecer o mundo novo, que é a mais incrível história que tenho para contar. Eu prevejo os teus sentidos, eu sinto contigo e não me envergonho de falar. Se hoje nada disso parece ter sentido, pare de mentir querido, eu sinto o mesmo que você, apesar de nem deixar aparentar.'
Eu sei o que você sente - Por Dara Bandeira

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Quando eu crescer.

E o que você vai querer ser quando crescer?
- Ah, eu quero mesmo é me tornar grande, grande de alma e de coração. Quero ser aquela que as pessoas cumprimentam na rua sorrindo, fazendo questão de parar. Aquela que não se importa de ter que ficar uma hora a mais no trabalho, já que sente prazer naquilo, veste a camisa, não tem muito do que reclamar. Quando eu crescer eu quero ser grande na empresa para qual eu trabalhar, quero que o meu chefe me conheça pelo nome, ou quem sabe, ser chefe do lugar que eu trabalhar. Quero escrever todos os dias, quero que alguém se alegre com que leu, que eu seja um impulso para que pessoas voltem a sonhar. Quero ter idéias publicitárias, textos jornalísticos, computadores a minha volta, uma redação de um jornal, quem sabe? Quero também um amor para viver e outro só para recordar, um amigo para rever e um antigo que viva lá em casa, rindo de coisas velhas e de coisas novas, revivendo histórias, fazendo parte, ajudando a melhorar.
Já ia me esquecendo de dizer, quando crescer quero ter mais de um curso superior, quero saber do que estou falando, quero ter uma opinião para dar. Quero entender um pouco de tudo, mas ter algo em que eu seja excelente, melhor do que eu mesma possa imaginar. Quero ouvir as músicas que quiser, ter uma sala só para mim, ser servida de um café e uma água depois do almoço, ter uma secretária para me passar as ligações, ter dois números de celular, um para família e outro para o trabalho, me sentir importante e ser importante, ainda que muita gente possa não notar. Quero dormir tarde e às vezes perder a hora, mas dar conta do recado, independente da hora que começar a trabalhar.
Quero ter um casal de filhos, um marido legal e um cachorro grande para o menino brincar. Lis e Noah, acho que são dois bonitos nomes, mas tenho certeza que vai haver confusão na hora de pronunciar. Quero que eles sejam parecidos comigo, pelo menos no jeito de falar, passando segurança ao se pronunciar, ainda que não entendam muito do assunto, busquem saber, para um dia poder comentar.
Quero escrever um livro também, esse é meu sonho mais antigo, acredita? Faz dois minutos que o sonhei, daqui a pouco eu esqueço, crio outro e ponho no lugar.
Eu sigo assim querendo ser grande, mas crescendo gradativamente, um passo de cada vez, sem precisar correr para chegar primeiro, já que tenho em mente que um dia vou ter o meu lugar.

Quando eu crescer – Dara Bandeira

sábado, 15 de agosto de 2009

Confiar em você.

E eu corro na cobertura de um prédio alto, esqueço a fobia, de braços abertos, de coração aquecido, pulsando forte, embriagada, anestesiada de amor.
Você está lá do outro lado, seu olhar é envolvente, parece com um brilho diferente que não consigo descrever. Você me chama pelo nome, e como em uma sessão de hipinoze eu continuo correndo, confiante porque você é tenaz, você é forte, você é quem cuida de mim.
Você dá três curtos passos e nos encontramos no fim da cobertura e me lanço em seus braços, me entrego aos seus beijos e, mais uma vez, você me seduz. Eu não me importo mais com a altura, nem com o que as pessoas vão pensar, afinal, ninguém vai naquela cobertura e se alguém chegar, você sempre sabe o que dizer, você sempre se defaz. Desmonta a cara de sedutor, desfaz o riso constante, transforma-se em homem sério que estava só a averiguar o que houve com a menina: - Ela estava desesperada, senhor sindico. Prometeu que ia daqui de cima saltar.
E enquanto o velhinho desce pelo elevador, descemos nós pela escada, paramos no penúltimo saguão e continuamos o que o senhor Paulo tentou atrapalhar.
Foi um risco eu sei, mas eu confio tanto em você, eu acredito tanto no que você é capaz de fazer quando se trata de nós dois, que eu não me importei de estar correndo riscos, eu estava com você.

Confiar em você -Por Dara Bandeira

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Parabéns Dudinha.

Bom, hoje as coisas por aqui estão um pouco diferentes. O texto de hoje é um ' feliz aniversário' para Eduarda, uma pessoa especial que chegou a pouco tempo, mas transformou a rotina, sabe como? Ela merece mais do que uns versos brancos, mas sou limitada, então eis aí o melhor que consegui para descrevê-la.Parabéns Duda.

'No começo eu não sentia nada, só sentia vontade de permanecer ali observando, tentando decifrar o que aquela menina quase mulher, queria dizer com suas risadas, com seus olhares indecifráveis, com sua incrível mania, de mesmo sem querer, me chamar atenção.
Então eu passo dias a olhar, só a olhar. Tento descobrir o porquê de ela se envolver com um menino que parece não ter muito haver com ela, mas parece ao menos ser tão legal quanto.
Finalmente trocamos as primeiras palavras, mas eu não me lembro mais quais foram.Lembro que descobri que não existia envolvimento entre eles, não havia nada além de uma amizade de anos, daquelas que as pessoas se conhecem nos mínimos detalhes. E como um vento impetuoso que passa e leva o sol embora, eu a vi fazendo parte dos meus dias, eu a vi com sua menor idade alegrando minhas noites, rindo alto no cinema, contando seus casos e acasos, chorando por coisas que já passaram, estudando para provas que também passaram, mas permanecendo firme e forte, para o que der e vier. Ela até hoje mistura os meus sentimentos, e logo os meus, que não consigo decifrar o que sou, que não consigo confiar direito nas pessoas. Ela persuade, ela me faz pensar na vida de uma forma diferente, dá um sentido novo para a palavra cumplicidade. E é exatamente isso que a traduz, sua cumplicidade sem tamanho, sua hombridade nas horas certas e incertas, sua capacidade de estar na hora certa, a dizer as coisas certas para mim, esse alguém tão incerto.
E agora finalmente ela já tem sua maior idade, agora já é quase dona do próprio nariz e fico imaginando como seria passar os dias da minha adolescência ao lado dela. Acho que teria crescido de uma forma diferente, teria tido como uma irmã mais nova, aquela que você mesmo sem querer, tem o dever de cuidar e, conseqüentemente, aprende a amar, a respeitar as diferenças, a seguir o fluxo natural das coisas. Como o tempo não volta e agora ela cresceu, eu fico com o que tenho, uma mulher madura, viva, que me dá alegria por vezes só de lembrar. Eu fico com a Dudinha, eterna Dudinha e seu sorriso faceiro, suas rimas e prosas, suas manias que são gostosas de se observar. Eu permaneço só observando, fico analisando a forma que ela cresce a cada dia, evolui, dá um passo a mais. Hoje para mim o mais interessante é poder participar dessa caminhada, participar desses altos e baixos, participar da vida da menina que conseguiu me encantar.
Obrigada

Por Dara Bandeira

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Aquela tarde vazia.

Tem dias em que não fazemos nada,mas temos tudo. No trabalho foi tudo adiado para o dia seguinte, em casa ela não acordou a tempo para fazer o que tinha planejado,mas ainda sim leva o dia de um jeito entusiasmado,abobado. Em breve as duas aulas preencherão a noite e tudo vai se repetindo, sempre se repetindo. Em casa ela ficará a espera das pessoas mais interessantes entrarem, conversarem, perguntarem as novidade e quase no fim da madrugada ela vai caçar o sono que quase nunca a procura. Ela não fez nada, mas descobriu que o colega de trabalho teve uma vida dura, mas que leva numa boa os problemas do cotidiano. Descobriu também que um deles é engraçado e que já está se acostumando em vê-la sempre por lá. Descobriu que muitas coisas melhoraram, apesar de não parecer. Ela tem uns amigos que fazem o dia dela mais feliz, que contribuem para a melhora repentina, que contribuem para manter o humor alegre que sempre teve. Ela olha em volta e não vê nada, ela ouve no fim do silêncio o barulho que o teclado da sala ao lado faz, ela escuta uma gargalhada de alguém que ganhou um jogo,escuta a gargalhada do seu interior que diz: 'As coisas estão melhorando e eu sabia que seria assim.

Aquele tarde vazia - Por Dara Bandeira

domingo, 9 de agosto de 2009

Domingo, 09.

Perdoa por favor, eu sei que agora é tarde, mas preciso, necessito acreditar que tudo está acabado, que estou perdoada, que nada me prende mais. Perdoa pela minha indiferença, perdoa pela falta de presença, perdoa por eu não ousar a perdoar, a me entregar, a prosseguir a caminhar, apesar dos pesares, apesar de todos os males.
Perdão, ainda que hoje não valha de nada, ainda que hoje seja só uma dor, ainda que seja só mais um domingo em que as pessoas se amam porque o comércio mandou, porque a mídia dominou e todos saíram na semana anterior para comprar os presentes, entusiasmados, enfileirados nas lojas, prontos para agradar. Além do perdão, eu agradeço por ter me ensinado, mesmo sem saber, a não fazer com mais ninguém aquilo que fiz com você.
Não é só por isso que hoje sou uma pessoa melhor, mas é porque dói tanto, dói tanto, que eu não consigo esquecer, eu nem ouso pensar em refazer o mal feito, que fiz durante quase 15 anos, com você.

Domingo, 09 - Por Dara Bandeira

sábado, 8 de agosto de 2009

Ela é estranha .

É incrível como ela não quer abrir mão das coisas que já tem, ainda que seja pouco. Guarda com um afinco, com um cuidado, não é fardo, mas ela reclama, já que no fundo ela sabe que as coisas podem melhorar. Ela fica com o que já tem, ela tem medo do novo, do irreal, detesta mudança, parece criança que não larga o brinquedo velho, ainda que tenha um novinho em folha para brincar. Parece que encontrou a solução: não perde aquilo que já tem, mas fecha a vida para o que há de vir. Nega os novos amores, revive as antigas dores, as fotos dos anos que se passaram, a nostalgia de tudo aquilo que viveu. Ela se protege do perigo maior, que considera ser ela mesma. Evita pensamentos muito profundos sobre o que pode vir a ser daqui para frente, já que foi obrigada a crescer tão rápido. Ela quer inovar, mas tudo deu um nó e a vida se perdeu, decididamente, ela vai ficar com o que sobrou. Até encontrar alguém que a impulsione, o fôlego novo, alguém para animar, alguém que quebre todas as barreiras, alguém, um alguém que seja especial, assim como ela é.

Ela é estranha - Por Dara Bandeira

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Insistir .

Antes do texto de hoje agradecimentos sinceros aos seguidores que me enviaram selinhos lindos *-* .Prometo postar em breve, ok? ;*

Segue o fluxoo . . .

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Insisto, mas nem sei ao certo por quê.Talvez seja por me perder nas horas quando estou com você, ou quem sabe porque as horas se perdem ao tentar prever a grande ironia do destino, eu e você.Insisto, talvez porque me dei conta que não sei mais acreditar na ausência.Eu admito a saudade, mas nunca a ausência por completo, entende? Admito que você fique um tempo fora, mas que deixe o seu cheiro, que deixe a sua voz ecoando pelos meus pensamentos quase perfeitos, deixe um pedaço seu, deixe a certeza de que logo voltará. Insisto em não sair de cena, afinal, gosto do nosso teatro, do nosso jogo inacabável.Insisto em não acreditar que existem perdas necessárias, insisto em deixar a minha cabeça confusa, insisto que não há nada melhor do que você.Quero deixar as lembranças daquele tempo bom em que nos amávamos em paz, sem precisar insistir, sem precisar forçar.Mas agora deixa, digo e insisto que o tempo é quem dirá o que vai ser melhor, o que melhor se encaixará.A alegria logo volta, a divina comédia retorna, assim que tudo que insisto recomeçar.

Insistir - Por Dara Bandeira

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ele apareceu.

'E como em um passe de mágica ele apareceu com a cara mais lavada, com o sorriso mais faceiro, com seu sotaque e suas gírias que parece de estrangeiro. Ele apareceu, ousado e diferente de todos os outros que conheci.'

Por Dara Bandeira

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

. Ela .

Ela agora é mais reservada, por mais que você não perceba, agora a morena fala menos, se contêm ao sorrir, contêm a alegria, contêm a cara de espanto, perdeu a graça ao se expressar.Desde que a moça percebeu que é sozinha ela se transformou em um misto de agonia e euforia, ela se sente meio presa e isso não têm como disfarçar.Ela guarda alguns segredos ,os quais prometeu ao espelho não contar a ninguém. Essa cumplicidade entre eles não vai durar muito tempo, já que ela achou um alguém que pergunta tudo e o hábito de mentir, a morena não tem. Ela conta a verdade, e, por vezes, surpreende com tudo que tem a dizer. Ela é uma incrível atriz, atua boa parte do tempo. As pessoas se perguntam se ela é uma pintura, algo indecifrável ou quem sabe uma moldura bonita, mas ela diz que não. Ela acredita que molduras bonitas não salvam quadros ruins, afirma também que nada nela é feito de giz. Pura, real e simples, a morena se diverte com pouco, mas ao chegar o fim do dia, já não é tão feliz. Ouve a quem tem que ouvir, responde as perguntas a quem quiser perguntar e logo já é outro dia. O sol vai permanecer lá, ainda que atrás das nuvens, a claridade toma conta de todo espaço. Mas lá dentro ainda permanece tudo meio obscuro e ela tenta viver ainda assim, ela deixa o ciclo se reiniciar, ela dá mais uma chance para si mesma, ela retoma na interminável tarefa de tentar ser feliz.

Ela - Por Dara Bandeira

quinta-feira, 30 de julho de 2009

.Não vou mais me esconder.

Adeus, querido!Eu disse que um dia as coisas iriam ser assim, mas você quis acreditar que nunca iria ter fim essas terríveis indas e vindas, esses desencontros sem um pingo de amor .Não reclame porque joguei as suas coisas no chão, não reclame por ter batido a porta na sua cara, não reclame por eu te amar demais. Eu sofri calada, quase apodreci por dentro e nem ao menos reclamei. Eu consegui fingir que não doeu a sua indiferença, que não doeu a sua falta de amor, a sua falta de entrega, mas você se cegou, sei lá, parece que não notou o meu esforço , que por muitas vezes, se tornou falta de valor .Vou deixar as luzes do apartamento acessas, a porta entre aberta, o som ligado, não quero e nem vou mais me esconder. Que os vizinhos saibam e comentem, das nossas desventuras. Que sejamos novamente o centro das atenções, que sejamos o motivo da fofoca da senhora do andar de baixo, o que não vou mais, é me esconder. Quero poder chorar enquanto espero o elevador,levar as malas para o carro lá em baixo, dirigir ao celular procurando um hotel pra ficar, pelo menos até eu me estabilizar. Quero poder contar a minha dor a todo àquele que desejar saber. E me lembre, por favor, o que eu quero é não lembrar, por um bom tempo, de você.
Dara Bandeira

quarta-feira, 29 de julho de 2009

. Despida de você .

Nessa noite sonhei ainda acordada em me despedaçar, me despir, estar completamente livre de toda máscara, de toda capa. Estar despida de tudo e todos que me lembrassem você, o seu cheiro, a sua voz, o seu humor contagiante, o seu amor embriagante, a sua falsa lucidez. Mas o estranho foi que antes de dormir, ouvi a nossa música preferida, tirei o seu carro em miniatura da estante para lembrar de você .Angustiada eu andei sem rumo pela casa escura e foi aí que percebi a sua voz ainda ecoando pelas paredes, percebi o seu cheiro ainda em minha pele e as suas idéias contidas em meus pensamentos.

Vejo, que assim como em uma construção civil existe uma grande e forte estrutura que sustenta todo o edifício , me despir de você é desmoronar uma estrutura imensa, é retornar ao pó com a esperança de um engenheiro tão competente quanto você, me refaça, me componha novamente e me faça esquecer da sua obra, da sua incrível mania de me encantar todos os dias ao me dar algo novo com suas diferentes formas de amar.

Despir - Por Dara Bandeira

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Despedida, e agora?

'Despedida, e agora? Eu não sei me expressar bem com as palavras faladas, não sei prever quando a lágrima se desprenderá do olhar. Eu tento ser natural, deixar que o fluxo siga, que as águas corram, mas nada acontece. Cinco e meia, e agora? Tenho vontade de nos últimos trinta minutos, me esconder em algum canto e com um lápis na mão, registrar todos os sentimentos que se passam pela minha mente, registrar cada detalhe para não parecer frieza ou ingratidão.
Eu não sei me despedir, decididamente, não sei. Eu consigo dar um até logo, já que é com isso que me acostumei, mas um adeus tão longo assim é pesado, um fardo engraçado, mas que ao mesmo tempo, não me faz sorrir. Descobri ao não conseguir dar nada além de uma fala: ‘ segunda, dia três, eu volto aqui’, que as companhias não são meros fantoches do cotidiano. Elas são o que valem, são o que importa, o que ficará guardado.
Ainda que os dias não se iniciassem com um abraço caloroso desejando um bom dia de trabalho, era lá que eu escutava a primeira voz do dia, me desejando um bom dia fatigado, cansado, marcado por noites mal dormidas, novidades que deixavam o dia mais triste ou mais feliz. Era lá que ouvia coisas engraçadas, de pessoas engraçadas que Deus por bondade quis me dar e eu aceitei sem ao menos contestar, titubear.
E que fique então no texto marcado a minha gratidão, emoção e prazer de ter pessoas que me suportaram tanto tempo, sem ao menos reclamar.
Obrigada, muito obrigada

Dara Bandeira

sábado, 25 de julho de 2009

Sábado o dia inteiro, tudo pode mudar.

Depois de todos os flashs ele desceu, fez o papelzinho de comportado, letrado, centrado.
Encaminhou-se para a entrada do grande e lotado auditório, as pessoas o observavam, admiravam a inteligência do jovem e cochichavam entre si algo que ele não podia entender. Depois de bater todos os flashs, de fazer o papel de comportada, aplicada e centrada, ela também se dirigiu ao início do auditório. Ela cochichava com seus pensamentos coisas que ele não podia ouvir. Ela admirava a inteligência do jovem, mas nem sabia o porque de ter ficado tão pasma, tão encantada com o jovem moço. Ele não era só sociedade civil,tinha um crachá colorido, dizendo o nome e tudo mais.Mas ainda que fosse por isso, não era explicação. Havia outros tão importantes, se não mais que ele. Mas ele era diferente, sabe? Era ousado, falava com ousadia, até mentir com precisão o conferencista sabia. Conversado, entusiasmado, mas sem muitos rodeios ele falou o que queria,encantou como podia, simplesmente ele marcou.
Ela não apaixonou, não isso não. Ela só fez o papel da encantada por um dia! Queria ter a vida que ele tinha, mas não entenda como inveja, por favor. Ela só queria ter alguém que a admirasse tanto assim. Que fosse profissionalmente, encantadoramente, intelectualmente...
Alguém que a admirasse tanto assim.

Dara Bandeira - O dia de sábado

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Uma crônica triste.

' Meses sem ter uma grande alegria, dias tristonhos, noite em má companhia.Vejo que definitivamente as coisas não vão bem, peço com verdade: perdão pela tristeza.'

Hoje pude perceber que de fato sou sozinha! Mas por favor, não quero que soe como melancolia, ou como a agonia de apenas um dia nostálgico que logo vai passar. A primeira pessoa do singular é o que tenho e não tem sido fácil assim se fazer. Parece crescer rápido demais, parece ter algo errado, não ter de fato, com quem contar. Sei que vão vir pessoas dizer ‘ pode contar comigo, querida’, mas não é simplesmente assim, dizer que pode contar. Desse tipo de cena já vivi muitas, ainda que minha pouca temporada como atriz da vida real, possa não aparentar. Destarte sou eu que me agüento todos os dias com minha insônia, meu mau humor, meus sentimentos reclusos, minha falta do que falar. Ninguém mais agüenta isso, nem você, eu sei. E essa nem é a obrigação de ninguém, além é claro, da primeira forma de conjugar qualquer verbo sobre o qual eu decida verbalizar.
E como se pudesse disfarçar em todos os momentos o que sinto, escondo o olhar triste com os óculos de grau, digo que é cansaço.Para tentar provar que é verdade, digo a hora que dormi. Justifico as olheiras, justifico o suspirar, justifico o pensamento perdido, justifico a falta do que falar, a insônia, a falta de apetite e o desânimo para chegar. Digo que sei que as coisas vão melhor, sou falsamente otimista, penso até em me alegrar. Acho que engano a quase todos, o ruim mesmo é me enganar. Enquanto as coisas não melhoram, eu deixo tudo assim, vou disfarçando a dor e no fundo é tudo um tanto faz.Vou sorrindo forçado, fingindo achar engraçado a forma que a vida está. Tocando sem sentir, ouvindo em escutar, não me importando muito com que há de vir, muito pior tenho fé não ter como ficar.A perda do justificar às vezes se faz necessária, nem sempre é possível ganhar, afinal, aqueles que querem sempre vitória, perdem a glória que é chorar. É a justificativa que posso usar, já que há palavras que se tornaram obsoletas em meu vocabulário, perdão por exaltar não mais o sorriso e deixar a lágrima falar.

Dara Bandeira

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Subjetividade não mata, ensina a viver.

Peço perdão pela minha subjetividade, por muitas vezes não saber ser direta, correta, sem rodeios, sem poesia, sem prosa.

'Uma vez me disseram que as nuvens eram transitórias e que tudo um dia passa, ainda que pareça interminável. Não há bem que pra sempre dure, querida. Nem ao menos mal que nunca se acabe, por isso, não se preocupe tanto com o que vai vir depois.
Claro, existe verdade na fala, mas como em um dia de muito movimento em grandes cidades, vejo nuvens que engarrafam o trânsito. Aqueles desenhos animados retratam claramente esta cena. A nuvenzinha só chove em cima de uma personagem, ela fica ali parada e a pobre personagem se vê encharcada, enquanto os outros estão intactos, sem uma gota de chuva sequer.Tem uma nuvem de melancolia, de subjetividade, de falta de razão, que me deixa assim. Cheia de rodeios para falar, cheia de vontade de gritar, cheia de inspiração que nem sei aonde usar. Às vezes acho que ela me faz bem, sabe? Faz-me demonstrar amor, recolher perdão, plantar coisas boas, agradar pessoas boas de alma cheia de solidão. Ajuda-me a mostrar a outra face do mundo hostil, do cotidiano das perdas, me faz fazer poesia com coisas torpes e afins, preenche o vazio, me faz mais feliz.Mas tem gente que não gosta e eu não me queixo disso não, juro que não. Duvido de tudo, menos da dúvida! Duvido que não exista aquele alguém que acha essa mania de subjetividade banal, que gosta das coisas racionais, que curte mesmo a cara lavada, sem essa de mágoa e de enfrentar a dor. Mas não tenho muito que fazer, e, definitivamente, não quero ter que pensar em um jeito de mudar. Afinal, eu me completo assim, libero as emoções, retiro até desilusões, tudo com um conjunto de frases e um pouco de afinidade com o imenso mundo subjetivo, mas incrível, pra quem vive de verdade.

Subjetividade - Dara Bandeira

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Direção, base quando falta o chão.

‘ Pela tarde uma das primeiras vozes que ouvi sendo direcionadas a mim foi uma voz grave, rouca, costumeira, cotidiana. Ouço sempre! Hoje a voz dizia: - Dara, feliz dia do amigo.’

Eu espero que ainda dê tempo de eu dizer algumas coisas. Apesar não ter parado de doer, apesar de não ter se fechado a ferida, eu sei que um dia isso vai acabar. Eu não quero nem preciso de muitos amigos, daqueles incontáveis números na minha agenda telefônica, de uma imensa lista de pessoas que fazem só números , mas não conseguem me atingir, me tocar, não conseguem gostar de mim apesar dos pesares. Hoje posso contar com auxílio de apenas uma mão, quem eu quero comigo para caminhar. Ouvi apenas uma felicitação pelo dia do amigo, recebi apenas uma ligação, que por sinal era engano. Mas agora eu não me engano mais, não prometo o que não vou cumprir, nem me preocupo tanto em agradar. Não vivo tão cercada, nem por isso me sinto menos amada. Vou levando somente procurando acertar. Não conto quase nada a ninguém, mas na hora certa, quem é realmente importante sempre sabe o que há.Obrigada aos poucos e bons, obrigada por darem cor ao enegrecido pelo medo e pela desilusão. Obrigada pelas viagens que não se fizeram frustras pela companhia, do Oiapoc ao Chuí, indas e vindas de Cordeiro a Duas Barras, ainda que distante assim vocês me fazem feliz.Obrigada pela paciência, pelas palavras de conforto, pelo estender de mão, pelo impulso para seguir! Obrigada pelo único, mas sincero ‘feliz dia do amigo’, obrigado por serem um dos motivos que me fazem escrever. Aqueles que não estão tão perto, mas se fazem presente até na ausência, ainda que o tempo e a distância digam não. Obrigada pelas loucuras, pelas noites perdidas,pela gemealidade que não dá para explicar. Obrigada pelas coisas que só nós entendemos, pela troca de olhares, por me fazer gargalhar.Obrigada por não me deixarem passar um dia sequer em casa, obrigada por serem o meu descansar.
Fazem-me crer que há amigos mais chegados que irmãos.Meu sincero e solene muito obrigado, pois amigo é direção, amigo é a base quando falta o chão.

Obrigada – Dara Bandeira

Transbordar

Quando chegamos a música já havia começado, as pessoas já estavam dispostas na grama,separadas da orquestra por um lago imenso. O clima era frio,úmido, mas acolhedor. Resolvi naquele dia transbordar os meus sentimentos, ainda que fossem com ações simples, sorriso complacente,ânimo ainda que sem o ter.Me trouxe a memória esse pensamento de poucos dias atrás. Segue o fluxo . . .

'Quando uma matéria qualquer não cabe em um recipiente, a tendência é que transborde.Exemplo prático é quando esquecemos uma garrafa de água enchendo no filtro, ou quando perdemos a noção que o refrigerante tem espuma e enchemos o copo até em cima.O que nos resta é enxugar a bagunça que fizemos e se ainda sobrar ânimo, tornar a encher o que não deu para salvar.Nas comemorações de fim de ano, estoura-se aquelas garrafas de champangne e é previsível o que acontecerá.O líquido entornará pela garrafa, vai lambuzar a taça por completo, suja até as mãos, mas é previsível, entende? As pessoas esperam por isso, se alegram, comemoram, rememoram momentos, assistem aos fogos e o ano novo chega.Quando esquecemos de viver a vida por completo, quando esquecemos de amar o que temos de melhor, quando esquecemos de admirar as coisas simples e pequenas, quando esquecemos de nos alegrar, a tristeza não cabe no nosso recipiente interno, tendendo então, a transbordar.Como a água esquecida sobre a pia, nossa nostalgia não cabe no peito e o que nos resta é chorar, nós ficamos esperando que alguém apareça para fechar nossa torneirinha interna, esperando alguém para superar nossas expectativas, esperando algo que venha como forma de inovar, algo na medida certa, sem sobrar nem faltar. Agora pense naquela felicidade que não cabe no peito, daquele momento incrível que você mal consegue lembrar sem se entusiasmar, sem se emocionar.Lembrou? Aquela homenagem inesperada, aquele pedido especial, aquela cena revivida, aquele beijo de chegada, aquele olhar encantador, aqueles acordes inesquecíveis, aquele abraço que mata a saudade.Ah, tão previsível quanto a garrafa de champangne, você transborda pela taça a fora, você não se importa em se ver a chorar, você canta, grita com a alegria imemorável que é amar algo, amar um momento, amar na simplicidade que temos no verbo intransitivo,particípio e singular.Diferente semelhança, não é? Ouse simplesmente transbordar, meu caro.Como um recuo providencial, ou como forma de reconhecer que na vida até as coisas boas fazem-nos chorar, transborde.'

Transbordar - Dara Bandeira

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O espetáculo

Acabou-se a euforia.Credenciais colocadas, lugar de imprensa, cadeiras no andar superior e o espetáculo logo começará.
Entram os músicos, seus enormes instrumentos, entram as musicistas e suas respectivas pastas que suponho eu, continha folhas com acordes, notas, músicas.
Quando a música começa outras coisas entram em cena. A minha insônia desaparece, a minha visão ofusca mais do que o normal por estar sem óculos e enfim, percebo a semelhança da vida e daquele espetáculo.

‘ Por vezes prestava muita atenção, vidrada e tentando, sem meus óculos, enxergar cada movimento que se dava no palco posicionado um pouco distante. Percebia pelo som quando a clarinetista se matinha sem movimentos, 'ausente'. Percebia que havia um cara que parecia figurante, sentado perto de tambores que, por incrível que pareça , eram silenciosos. Percebia também que as pessoas podiam ser diferenciadas pela roupa e que o maestro realmente era bom.
Em certas horas me via distraída, perguntando que horas acabaria, perguntando porque meus óculos ficaram em casa, porque o Vitor não apareceu, porque sentia sono nas horas impróprias, porque não conseguia prestar atenção ao que se passava no momento.
Passando pelos corredores sentia uma coisa estranha, era como se pudesse comparar tudo que tinha passado ali à nostalgia do dia a dia.
Tem dias os quais ficamos vidrados na vida, mesmo sem enxergar muitas coisas, usamos os outros sentidos, ouvimos cada instrumentista, sentimos falta do som que ele faz. Percebemos que cada movimento faz toda a diferença, percebemos que tem um alguém por perto dos tambores que não faz muita coisa, mas no fim do espetáculo dá o toque final, dá o diferencial, aparece ousado e abusado. Somos felizes por horas, não queremos que chegue ao fim.
Em outros tempos somos dispersos, perguntamos o tempo todo quando a dor vai acabar, quando aparecerá alguém que prometeu chegar, o porque da bendita audição não ser o suficiente, ter que ter também o visual, o superficial, o natural. Disfarçamos o tédio com o sono e nos damos conta de que não estamos atentos à absolutamente nada.’
E agora, o que fazer?
Se você não tiver em mãos um cronograma de qual será a próxima atração do espetáculo, aguarde acabar, fique na expectativa de o que virá depois, fique atento a quando terá que se levantar para aplaudir e se preocupe menos com o que pode ver. Aguarde apenas o ciclo terminar.

O espetáculo – Dara Bandeira

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Para no próximo,por favor, quero descer.

Ônibus vazio, últimos passageiros da última viajem do dia! Motorista apressado, provavelmente casando, doido pra em casa chegar. Vejo que se aproxima meu ponto. Decido não apertar a sirene, afinal, o ônibus está vazio, o que é que custa verbalizar?

- Querido, para no próximo por favor, é lá que vou ficar.


'Eu sei que a vida continua, mas às vezes bate uma incrível vontade de parar. Como se pede para descer de um ônibus, sabe como? Apertar a sirene e a vida depois de uns segundos com redução de velocidade, parar. Parar para ver a cor do céu, parar para dar atenção à criação, parar simplesmente. E hoje, ao parar num desses poucos momentos em que a correria me permitiu, percebi que existem tipos de pessoas que são imprescindíveis. Aquele que consegue enxergar as verdades eternas, aquele que escuta suas mágoas pequenas, aquele que te abraça e te acalenta ao te ver chorar, aquele que passou com você os dias mais melancólicos, aquele que dá saudade por vezes e faz até num fim de noite você chorar. Por maiores ou menores que sejam nossos problemas, parece que tudo se reduz ao pó quando se tem com quem contar. Quando dei um ‘stop’ em tudo que tanto corre, vi que faz muito sentido dizer que não são importantes as posses que se tem e nem ao menos a falta delas, não é importante a casa que você mora ou o carro que você tem. Ter alguém na vida é o mais importante. Ter alguém que entenda o quanto você pode perder com o fracasso, ter alguém que saiba o quanto você mudou desde que o destino pegou em sua mão, o quanto as suas experiências anteriores te fazem sorrir e até mesmo chorar, diminuir o ritmo, desconfiar. Aquelas que podem ver os lamaçais que você atravessou, enfrentando tudo e todos, com sorriso disfarçando a dor, com oração, fervor, temor.Se não encontras isso em mais ninguém, não será por muito assombro a velhice precoce, nem o semblante abatido de quem já resolveu não pensar mais nisso. Serás consolo para os que julgam estar tristonhos e motivo de receio para aqueles que não são.'

Parar - Dara Bandeira

terça-feira, 14 de julho de 2009

A primeira dose de nostalgia

Depois de algumas semanas ajeitando os detalhes do blog, depois alguns anos tentando ganhar intimidade com as palavras, eis aqui tudo o que não consigo expressar com as palavras verbalizadas . Sentimentos diários vão ser postados por aqui e ainda que não alcance um número grande de leitores, sentir e escrever se fazem mais importantes do que os meros números.
Como primeiro tema, escolhi falar da saudade! Sei que não é um verbo como se é de costume eu escrever, mas ainda sim decidi tentar inovar. Segue o fluxo. . .

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'A saudade é o sentimento mais incrível que pude conhecer. Eu sinto saudade do cheiro, da voz, do som que ouvia, de quase tudo que sentia. Como um buraco que nada preenche a saudade fica lá. Batendo firme, trazendo angustia, trazendo o transbordar de todos os turbulentos momentos os quais vivi, ela chega de mansinho e faz até rir no inicio. Sorrir sozinha, sabe como? Daquele dia em que deu tudo errado e tivemos que voltar pra casa molhados de chuva, da noite em que gargalhamos por horas por alguma coisa idiota, mas era com alguém especial, e por isso, tudo se fez novo, era tudo gracioso. Saudade sem tradução, sem muita explicação, simplesmente a saudade. Depois dos momentos de sorrisos lembro que nada é mais assim. As coisas mudaram, tempos se passaram e hoje são só boas lembranças. Aí eu pergunto: O que faço com os dias que se tornam compridos, com as noites que vejo se tornarem dia, com a eterna falta do que dizer? Por mais longe que se está de alguém, a pior das saudades são aquelas que se sabe previamente, que não vai ter como sanar. Não se acha nas prateleiras dos supermercados os sorrisos, abraços, rimas de amor, a amizade sem tamanho e muito menos aquele amor antigo. Nem a preços altíssimos, que dirá em promoção, meu caro. Melhor do que chocolate, melhor do que um dia na praia, melhor do que o teatro, do que a cor e o som é a presença consentida, é gesto, é a sinestesia, é amor puro, é a fragrância que se sente e se percebe com o olhar. As manias, as coisas bonitas, as noites olhando o luar, o empréstimo não só do livro, mas também de um sorriso que talvez eu não possa esboçar. Ah, a presença é coisa boa de cultivar, não ? Sentimos dores de todas as coisas, mas quando a dor é de saudade, não há verbo que possa traduzir, não há antitérmico que abaixe a temperatura, não há analgésico que cesse a dor.Fui ao médico esses dias, e sabe o que ele falou?

- ‘Aspirina da presença, querida, não há nada melhor pra essa dor.’


Saudade , por Dara Bandeira