segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sobre a Beleza

É bom alertar, já que não tenho costume de fazer isso, que o texto não é meu. Mas me identifiquei tanto, mas tanto, que resolvi quebrar o protocolo. A autora, Rosana Hermann, é fantástica, vale assinar para receber as atualizações no Facebook.
Eu sempre quis ser bonita. Muito bonita. Não rolou. Todo meu esforço, no máximo, termina em elogios como 'você está elegante', 'ficou ótimo pra você' e outras gentiliezas que o mundo me oferece de forma benevolente pelo meu esforço em oferecer uma imagem agradável. O fato é que, bonita, nunca fui. O mundo gosta de pessoas bonitas, da beleza. Porque a beleza, em última instância, é algo que a pessoa oferece para os outros. Os outros se beneficiam de forma imediata dessa beleza. É como um encantamento. A pessoa chega e encanta. Em geral, todos querem servir, agradar a pessoa bela. A beleza faz com que as pessoas queiram abrir portas para você. Ocorre que o mesmo mundo que premia a beleza e acha lindo que a pessoa saiba e aceite que é bonita, não admite que nenhuma pessoa inteligente diga que assim o é. A menos que a pessoa inteligente e linda, ela não poderá jamais tocar no assunto. Porque a inteligência, ao contrário da beleza, não parece ser um dom coletivo. Embora a produção da inteligência tenha deixado grande legado para toda a humanidade, as pessoas preferem gênios mortos a inteligentes vivos. Se a beleza estimula o outro a tentar ficar mais belo, a inteligência muitas vezes gera desconforto. Quando a criança é ainda pequena e inteligente, ela é vista como precoce e gracinha. Ao se tornar adulta, porém, o encanto some e fica apenas a obrigação de ser humilde, muito humilde. Há que se tomar cuidado para não ofender ninguém com um raciocínio. Sempre quis ser linda. Não deu. Mas desde cedo percebi que algumas coisas pareciam fáceis na minha cabeça, como se eu já tivesse nascido com alguns aplicativos que cortavam caminhos. Eu aprendi depressa, imaginava, criava soluções, via saídas. Minha vida confusa e destrambelhada só foi possível porque tive esse agente facilitador, essa dádiva. Em vez de beleza, voz bonita e tudo mais, rolou de ter esses softwares préinstalados. Foi assim que sobrevivi, criei meus filhos, arrumei trabalho. Acho que na maior parte dos anos eu passei juntando minha caixa de ferramentas, que inclui agulhas de costura, crochê, tricô, aplicativos, programas, martelos, chaves de fenda, canetas, teclados, colheres, canivetes e tudo o mais que aparecesse na minha frente. Não sou um gênio,não tenho títulos impressionantes, não ganhei um Nobel, não sou consagrada. Mas eu tenho aquilo que todas as pessoas inteligentes, esforçadas, corajosas têm: independência. A inteligência não apenas rima com independência, ela viabiliza muita coisa em sua vida. Outro dia, eu precisava resolver um problema de trabalho. Nâo estava dando certo. Até que lembrei de duas ferramentas e montei uma solução. Funcionou. Fiquei feliz. Não tenho quase ninguém com quem dividir essas alegrias bobas, a não ser com algumas pessoas com quem trabalho. Certamente não posso postar autoelogios ou alegrias desse tipo de forma aberta na web, porque isso resulta sempre em uma saraivada de ofensas, gritos de ódio apontando minha falta de humildade, tomates podres atirados por todos os que se incomodam com tudo. Então eu levantei para lavar as mãos e, no caminho, parei para conversar com a Ju Mosca, que é jovem, graciosa, peculiarmente bonita e muito inteligente. - Ju - eu disse - eu queria dividir uma bobagem com você, porque com você eu sei que posso. - Diga - Fiquei tão feliz agora em encontrar uma solução. Fiquei tão grata ao mundo por ter uma inteligência que me atende, que resolve. - É, ser inteligente é muito legal. Faz a gente ser independente. - É, mas eu sempre quis ser bonita. - Mas a beleza passa, muda. A inteligência só melhora com os anos. - Eu acho bacana gente bonita. O problema é que ser bonita acaba levando pra muitos caminhos de dependência. A pessoa fica dependente do elogio alheio, da paparização. A beleza precisa do outro. - A inteligência permite que você resolva muita coisa sozinho. - Verdade, Ju. Acho que a diferença é que a beleza faz com que as outras pessoas abram portas para você. - E a inteligência faz com que você mesma consiga achar soluções para abrir todas as portas. - E o conhecimento é a soma de toda inteligência humana, ali, pronta pra você usar. O conhecimento, como num passe de mágica, para belos, tolos, feios e sábios, apenas diz: abracadabra. Rosana Hermann

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Ao menos pude lhe fazer pensar, meu caro ?