sexta-feira, 17 de julho de 2009

O espetáculo

Acabou-se a euforia.Credenciais colocadas, lugar de imprensa, cadeiras no andar superior e o espetáculo logo começará.
Entram os músicos, seus enormes instrumentos, entram as musicistas e suas respectivas pastas que suponho eu, continha folhas com acordes, notas, músicas.
Quando a música começa outras coisas entram em cena. A minha insônia desaparece, a minha visão ofusca mais do que o normal por estar sem óculos e enfim, percebo a semelhança da vida e daquele espetáculo.

‘ Por vezes prestava muita atenção, vidrada e tentando, sem meus óculos, enxergar cada movimento que se dava no palco posicionado um pouco distante. Percebia pelo som quando a clarinetista se matinha sem movimentos, 'ausente'. Percebia que havia um cara que parecia figurante, sentado perto de tambores que, por incrível que pareça , eram silenciosos. Percebia também que as pessoas podiam ser diferenciadas pela roupa e que o maestro realmente era bom.
Em certas horas me via distraída, perguntando que horas acabaria, perguntando porque meus óculos ficaram em casa, porque o Vitor não apareceu, porque sentia sono nas horas impróprias, porque não conseguia prestar atenção ao que se passava no momento.
Passando pelos corredores sentia uma coisa estranha, era como se pudesse comparar tudo que tinha passado ali à nostalgia do dia a dia.
Tem dias os quais ficamos vidrados na vida, mesmo sem enxergar muitas coisas, usamos os outros sentidos, ouvimos cada instrumentista, sentimos falta do som que ele faz. Percebemos que cada movimento faz toda a diferença, percebemos que tem um alguém por perto dos tambores que não faz muita coisa, mas no fim do espetáculo dá o toque final, dá o diferencial, aparece ousado e abusado. Somos felizes por horas, não queremos que chegue ao fim.
Em outros tempos somos dispersos, perguntamos o tempo todo quando a dor vai acabar, quando aparecerá alguém que prometeu chegar, o porque da bendita audição não ser o suficiente, ter que ter também o visual, o superficial, o natural. Disfarçamos o tédio com o sono e nos damos conta de que não estamos atentos à absolutamente nada.’
E agora, o que fazer?
Se você não tiver em mãos um cronograma de qual será a próxima atração do espetáculo, aguarde acabar, fique na expectativa de o que virá depois, fique atento a quando terá que se levantar para aplaudir e se preocupe menos com o que pode ver. Aguarde apenas o ciclo terminar.

O espetáculo – Dara Bandeira

2 comentários:

  1. Amei o texto, vc tem uma ótima intimidade com as palavras hein?! :D

    To retribuindo a visita no blog, e esclarecendo uma coisinha. Eu não prometi qe iria. Eu só disse que talvez vá. E se eu vou, e o convite é pra valer mesmo, temos que combinar umas coisinhas né ;)

    Bjoos minha ídola :*

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  2. Sempre longe dos adjetivos e julgos :
    Poderia- se até escrever um livro com isso .

    Releia o texto !

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Ao menos pude lhe fazer pensar, meu caro ?