quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Era você

Era você que passava pela rua, tenho certeza de que era você. O seu gesto simples de passar a mão pelos cabelos, de ajeitar a franja como quem mexe em um bibelô. Era você porque eu te vi entrando na lojinha de produtos naturais e comprando aquele chá de sempre. Eu te vi sorrindo, com seu jeito de conquistar o mundo, com seu jeito de desarmar os vendedores todos. Eu te vi carregar o guarda-chuva enorme, arrastando com a ponta no chão. Eu te vi correndo pra atravessar, e ali tive certeza de que era você. Passando apressada entre aqueles camelôs todos, negando oferta do office, do Corel, do photoshop. Eu te vi entrando no metro, conferindo o lado de embarque, olhando o celular. Eu te vi de longe e sabia que era você, em todo tempo. Eu te reconheci. Eu só não me reconheci, não reconheci a minha falta de coragem de gritar seu nome. De dizer que estava ali e que tudo em você me encantava. Eu não entendi minha impotência, meu medo, meu amor contido, meu vexame. Eu te vi a andar pelas ruas e nos momentos em que tive dúvida se era você quem eu via, é porque eu não me via ali, caminhando de mãos dadas com você. Eu não me via cuidando para que tudo acontecesse na ordem natural das coisas. Acho que não era eu. Acho que não era você.

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Ao menos pude lhe fazer pensar, meu caro ?