terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Função original

Quando as coisas passam a ocupar a sua função original, arrisco dizer que é o fim de um ciclo. Às vezes doloroso, noutras horas nem tanto. Quando uma roupa vira só uma vestimenta qualquer, quando você não usa pra levantar a autoestima, porque qualquer elogio não vai fazer a menor diferença. Quando você para de ouvir uma música, porque não faz mais sentindo implicar com o gosto musical do outro, ou quando você para de ouvir toda a sua playlist... porque ela faz sentido, alimenta suas lembranças e te faz querer o que não está mais ao seu alcance. Quando as pequenas alegrias, todas elas, resumem-se aos momentos em que você se esqueceu de que está só, e, mesmo assim, vai ter seguir em frente. Quando você tira o telefone do gancho, pra ver se está funcionando. Checa a caixa de spam, checa até a caixa de correio. Olha o sinal do celular, pra ver se não está sendo boicotado pela operadora e descobre, enfim, que a única pessoa que se boicota é você mesmo. Quando dá uma saudade enorme e você tenta substituí-la por momentos ruins, para que, racionalmente, seu corpo entenda que a distância uma hora vai fazer todo sentido. Quando o café, a tortinha de maçã, o Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto, são só o café, a tortinha de maçã, o Caetano e Adriana. Tudo com sentido denotado. Sem tirar, sem por. Sem romance, sem amor, sem conotação. Só a realidade, nua e crua.

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Ao menos pude lhe fazer pensar, meu caro ?